Sobre o blog:
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Ainda bem que parir dói....
A dura realidade é que nós mulheres permitimos que os nossos corpos fossem controlados por ideias vendidas pelos médicos de que a dor no parto é desnecessária e evitável de maneira segura. MAS NÃO É!
Nós, mulheres, condenamos este controle porque não estamos conectadas, NÓS SOMOS mamíferos, não estamos informadas sobre a natureza e o propósito da dor no parto, e somos influenciadas por argumentos que parecem persuasivos, mas não são baseados em factos.
PARIR DÓI; MAS É UMA DOR COM PROPÓSITO:::
Canto a las mujeres, que como las lobas
bailan y aúllan a la luna.
Juntas y salvajes van por las montañas,
Van en libertad y son hermanas.
Recogiendo todos los logros de nuestras antepasadas,,
continuando con conciencia y usando nuevas palabras.
Es el momento de alcanzar los sueños,
es hora de regalarnos risas,
de esas que nacen de muy adentro
y que se expanden a toda prisa.
Y que rían con nosotras los nuevos hombres del mundo
que se inventan, como nosotras, para poder andar juntos.
Sentimos lo sagrado habitando nuestro cuerpo,
que es el cuerpo de la tierra misma.
En cada fase de nuestros ciclos
abrazamos con amor la vida.
Y que vivan con nosotras los nuevos hombres del mundo que se inventan, como nosotras, para poder sembrar juntos.
domingo, 23 de janeiro de 2011
O SENTIDO E AS FUNÇÕES DA DOR DE PARTO
Deixo-vos a conclusão mas não deixem de ler o texto completo.
Vimos que a dor no parto é um elemento frequentemente indesejado, mas fundamental para o trabalho de parto fisiológico. Na verdade, a dor activa na mulher os seus próprios recursos, tornando-a mais forte, enquanto a prepara para o vínculo com o seu bebé. A dor é fundamental na promoção da saúde. A sua eliminação gera complicações consideráveis. Acima de tudo, a eliminação da dor inibe a mulher do seu poder reactivo, tornando-a mais fraca. Além disso, sem a dor, a mulher perde a hipótese de uma importante experiência de auto-descoberta. O conhecimento da obstetricia deveria reconsiderar estes factores e ponderar se não valeria a pena trabalhar mais intensamente sobre estes temas antes do parto, investindo mais na analgesia natural e, portanto, na figura da parteira.
Certamente que o parto fisiológico, com a dor que o acompanha, só é sustentável com o apoio e a orientação de uma parteira sábia e paciente que tenha realmente tempo para este processo.
Verena Schmid
Tradução: Sandra Oliveira para BioNascimento
Revisão: Sílvia Roque Martins para BioNascimento
sábado, 8 de maio de 2010
O porquê da dor (no parto)
A gente pode dissecar a questão da dor (do parto) de infinitos modos, pois
não se trata de uma grandeza absoluta, não mede xis unidades de qualquer
coisa. Ela é relativa, e a múltiplos fatores combinados entre si, físicos e
psíquicos, conscientes e inconscientes, e a combinação de todos eles produz
a percepção psico-física dentro de limiares individuais.
Na nossa cultura, o parto é na grande maior parte das vezes vivenciado e
relatado como um evento em que está presente uma dor que beira o
insuportável. Será necessário que seja assim? Vejamos...
Primeiramente há o aspecto evolutivo. O parto humano é o que apresenta a
relação céfalo- pélvica mais estreita da natureza. Um dia resolvemos descer
das árvores e caminhar sobre duas pernas. Outro dia resolvemos engrossar
nossa camada de neo-córtex cerebral: resultamos bípedes e cabeçudos, porque
somos metidos a não ser bestas. E na hora de parir nossos filhotes, os
processos musculares de contração das paredes e dilatação do colo uterino,
mais os movimentos do bebê empurrando-se para fora ocorrem sem folga de
espaço, e as sensações fortes* que esses processos produzem podem ser
interpretados como “dor”, e potencializados em sensações ainda mais
dolorosas se houver medo, insegurança, ou ação de hormônios artificiais como
se costuma aplicar através de soro às mulheres em trabalho de parto com o
objetivo de acelerar o processo, atingindo níveis de fato insuportáveis. Em
"Correntes da Vida", o psicoterapeuta inglês David Boadella** descreve o
comportamento uterino em trabalho de parto quando a mãe sente qualquer tipo
de medo – consciente ou inconsciente:
“(...) o útero tenta fazer duas coisas antagônicas ao mesmo tempo: tenta
abrir-se, sob a influência do relógio biológico que atua através do hormônio
que prepara o caminho para o bebê nascer; e, simultaneamente, tenta
manter-se fechado, sob a influência dos nervos simpáticos, trazidos à ação
pelo medo. É como se alguém quisesse dobrar e esticar o braço ao mesmo
tempo; o braço teria um espasmo, que causaria dor. isso é exatamente o que
acontece com o útero de uma mãe que é incapaz de relaxar e que está
condicionada a sentir dor.”
Mas por que a mulher está condicionada a sentir dor? Um dos motivos é o
arquétipo do parto doloroso em conseqüência do pecado original, como reza
nossa cultura judaico-cristã
provado do fruto do Conhecimento, o Criador lhes diz: “Multiplicarei
sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz
filhos” (Gênesis 3:16). Ora, como não sentir dor se o próprio Deus a
determina? O arquétipo do parto como sofrimento foi literalmente
in-corporado baixo a quase 6.000 anos de crença.
Outro aspecto importante, é o caráter fisiológico do parto. Esta noção não
faz parte do senso comum: de que o ato de parir (assim como gestar e
amamentar) é tão fisiológico e saudável quanto respirar, digerir, filtrar o
sangue, pensar, absorver nutrientes, excretar, chorar, ouvir, enxergar,
fazer sexo, fazer amor. Mas na nossa cultura, uma mulher grávida é vista
como alguém sob risco potencial e iminente, o parto é visto como um evento
necessariamente hospitalar e na maioria das vezes, cirúrgico. Ao transformar
um evento potencialmente saudável em necessariamente patológico, a dor
encontra campo fértil para ser identificada como tal. Está aí um dos fatores
que levam tantas mulheres a sentir pavor pelo parto normal.
A dor tida por alucinante pode ser percebida como lidável quando a mulher,
em primeiro lugar subtrai-lhe a parcela da dor propriamente dita, advinda do
medo e da insegurança; o restante das sensações, ela pode converter em
sensações lidáveis ao aceitar a natureza do seu corpo, aceitar as sensações
do trabalho de parto não como alguma coisa a vencer, contra as quais se deve
lutar - porque elas não resultam de uma patologia, não sinalizam alguma
coisa que está errada, como uma fratura ou queimadura, por exemplo. Não.
Essa sensação é uma aliada que sinaliza o processo fisiológico do parto,
levando a mulher a fazer força, ou a se contorcer, a gemer, a acocorar-se ou
a procurar a banheira, e entre as contrações as sensações atenuam, como
ondas***, e você pode relaxar. As sensações intensas levam ao transe, e esse
transe tem que ser aproveitado, ele faz parte. Você não precisa de
anestésicos, ordem pra fazer força, fórceps. Você precisa apenas de
liberdade para vivenciar seu parto.
O parto é você, é o seu corpo em plena atividade, e você não deveria deixar
esta parte de você ser subtraída por uma conveniência que vem de fora.
Existem séculos de uma cultura desfeminilizante costurando essa rede em que
se cai tão facilmente, como eu mesma caí nos meus partos. Não é a mulher que
precisa da anestesia, são os outros que precisam do conforto de uma mulher
parindo quietinha.
E há outro aspecto que eu acho muito interessante que é a coisa do ritual de
passagem. Nós cultivamos algumas manifestações externas de rituais, como
casamentos, batizados, bar-mitzvahs, aniversários, festas da primavera, e
essas festas refletem a nossa necessidade humana de marcar as passagens das
fases, de criança inimputável para o adulto responsável, da vida individual
para a vida em família, de um período de dureza para outro de fartura,
enfim, quando passamos de uma fase para outra sem essa marca fica faltando
alguma coisa. Tive um tio que foi tratado com hormônios nos anos 40 para
acelerar seu crescimento. Na verdade ele foi cobaia das primeiras
experimentações com hormônios no Brasil. De um dia para o outro ganhou pelos
pelo corpo, engrossou a voz, a adolescência que deveria prepará-lo
vagarosamente para a idade adulta veio num turbilhão que ele não deu conta e
ninguém à volta dele compreendeu. Ele enlouqueceu.
Assim é com o parto. Quando se tenta ao máximo passar por ele como se nada
tivesse acontecido - e o ápice disso é a cesárea eletiva, está-se pulando um
ritual fundamental para o início da maternidade. E o efeito cascata começa:
dificuldade de estabelecer vínculo com o bebê, depressão pós-parto, "falta"
de leite, intolerância ao comportamento do bebê. O parto normal cheio de
intervenções, do qual se diz "ah, foi uma beleza, não senti na-da!!! fiquei
ali, conversando, e em xis (poucas) horas o bebê nasceu!!" não é muito menos
maquiagem da passagem. Sim, "de repente" o bebê estava ali. E ela não
precisou fazer nada. Inicia-se a maternidade com a sensação de que "não é
preciso fazer nada" para ser mãe. E começa a transferência de
responsabilidade.
maternidade moderna NÃO PODE ser trabalhosa. E esse caráter trabalhoso que a
maternidade efetivamente tem, não é, como nossa sociedade acredita, um
sofrimento, um castigo do qual devemos nos livrar. Ao contrário, ela contém
o extremo prazer que sentem as pessoas que superam desafios, convivendo com
as mudanças no corpo e na vida pelo prazer que isso traz, em oposição à
compulsão de querer lutar contra as mudanças irreversíveis promovidas pela
chegada dos filhos.
O processo do parto vem sendo aprimorado há milhões de anos (ou milhares,
depende do critério), e a humanidade definitivamente não aperfeiçoou este
processo agregando-lhe tecnologia, apenas o corrompeu. Anestesia, ocitocina
na veia, posição horizontal, raspagens, submissão a alguém como dono do
parto, kristeller, amniotomia, episiotomia, tudo isso num trabalho de parto
que está transcorrendo sem intercorrências, não é evolução: é perversão. Das
grossas. Você e seu bebê não precisam de mais nada além dos seus corpos com
seus hormônios para permitir o nascimento.
Precisamos desconstruir o conceito de parto doloroso, e compreender e
desejar e conquistar o parto prazeroso, não importa quão trabalhoso ele
possa ser. Não se deixem levar pela inércia do sistema obstétrico vigente,
que inadvertidamente vampiriza a força, a beleza e a vida que mãe e bebê
protagonizam no ato de parir e nascer.
* definição da Éllade França
** contribuição da Anita Cione
*** definição de Michel Odent
Roselene Nogueira <roselene@partodopri
Mãe de Heloisa, Beatriz e Isabela (3 partos normais hospitalares) e
arquiteta
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Sobre a dor no parto...
"Uma mulher em trabalho de parto está envolvida em uma amálgama de sentimentos e anseios, além de alterações hormonais, posturais, físicas, afetivas e espirituais. Portanto é de um reducionismo insensato tentar analisar matematicamente a dor de alguém, porque qualquer dor possui uma miríade de componentes imponderáveis e não quantificáveis. Esse tipo de avaliação só serve de pretexto aos intervencionistas, os que lucram com a ablação sem critério das sensibilidades dolorosas - entre outras, como a propriocepção - de gestantes. A nobre arte de aliviar a dor dos que sofrem, através do uso dos anestésicos, não pode fazer com que percamos totalmente a noção do sentido da dor dentro de um processo complexo e multifatorial como o parto.
A dor faz parte do nosso fantástico arsenal de defesa, como a febre, a inflamação, as exonerações, etc. Simplesmente determinar o seu extermínio sem levar em conta a cadeia de interconexões entre todos os componentes ilusoriamente separados é ingenuidade ou ignorância. Acabar com a dor do parto, simplesmente por ser dor, é insensato e representa uma visão diminutiva do nascimento. A dor faz parte do processo, mas o que se observa é que, dadas as condições para um nascimento afetivo e cercado de segurança emocional, essa dor pode ser inclusive imperceptível. A quantidade infinita de alternativas humanas para lidar com seus desafios é uma das características de nossa espécie. Entretanto, a medicina com sua sanha homogenizante acaba, muitas vezes, tratando pessoas como se cada corpo fosse igual ao outro; cada barriga uma cópia xerox da anterior, e cada mulher um fac-símile de todas as outras.
(...)
A “dor fisiológica” do parto, causada pela contração uterina, dilatação do colo, etc, é um fato inquestionável para a imensa maioria das mulheres, apesar de algumas poucas (...) relatarem a completa ausência de dor. Entretanto, esta experiência dolorosa é contrabalançada pelo acréscimo fantástico de endorfinas na circulação, num incremento de até 30 vezes os valores séricos normais, o que auxilia a parturiente a suportar as dificuldades do processo. Além disso, os suportes emocional, afetivo, social e espiritual oferecem sentido a esta dor, pois como já afirmavam os Terapeutas de Alexandria, “a única dor insuportável é a que não é interpretada”
Falamos, então, de uma dor fisiológica associada a um processo que desafia nossos limites ou de uma percepção patologizante de um fenômeno natural, que se torna mais doloroso tanto mais relegamos ao esquecimento suas dimensões afetivas, sociais e espirituais?
Afinal. De que parto estamos tratando?"
(Memórias do Homem de Vidro - Reminiscências de um Obstetra Humanista)
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
A dor no parto...
A dor do parto é uma dor intermitente, vem com a contração, começando fraca e vai aumentando, até atingir o pico de intensidade, depois começa a diminuir e desaparece completamente. No intervalo entre as contrações não há dor, dá tempo para relaxar, meditar, respirar profundamente e muitas vezes dormir.
É uma dor diretamente influenciada por fatores psicológicos, funcionais e emocionais. Quando estamos com medo, ficamos tensas, e a nossa tensão faz a dor aumentar. É um ciclo bem conhecido, o ciclo do medo-tensão-dor.

Uma boa experiência de parto significa, entre outras coisas, lidar com a dor inerente ao processo de abertura do colo do útero e aliviar ou eliminar as dores desnecessárias, provenientes de tensões, medos, ambientes impróprios, manobras médicas discutíveis ou presença de pessoas indesejadas.
Como podemos minimizar o desconforto das contrações?
- Água, um recurso importante, nas suas variadas formas. O chuveiro morno sobre as costas é relaxante e diminui a sensação de dor. Não há limite de tempo para a mulher permanecer no chuveiro, as banheiras comuns ou de parto também são relaxantes e diminuem a sensação de dor. O ideal é que a imersão seja feita quando a dilatação já atingiu 5 ou 6 cm, para que não haja desaceleração do trabalho de parto.
- Respiração, embora todos saibamos respirar, existem técnicas que ajudam a aumentar a oxigenação durante as contrações e o relaxamento durante os intervalos. Basicamente, entre contrações a respiração deve ser calma e profunda, propiciando maior relaxamento. Durante a contração, usa-se uma respiração mais acelerada, começando lenta e ficando mais curta e rápida no auge da contração ( cachorrinho), voltando aos poucos a ficar mais profunda e longa conforme a contração vai desaparecendo. Esta respiração aumenta a oxigenação. Embora essas sejam dicas úteis para o parto, a respiração varia de mulher para mulher não exitem regras fixas! manter intiutivamente um ritmo respiratório sem necessidade de auxílio é uma forma de devolver o protagonismo á mulher!
- Iluminação – para a maioria das mulheres, um ambiente na penumbra ou meia luz é mais propício ao relaxamento.
- Velas, aromas, cores – o uso de outros elementos ambientais podem ser muito importantes individualmente, todos os recursos ambientais são válidos, desde que seja a parturiente a escolher.Palavras de encorajamento, silêncio, privacidade e ambiente discreto
- Carinho e apoio obtido do companheiro, mãe, amiga, doula, etc. Não sentir-se sózinha nesse momento tão importante e intenso, ser cuidada... É importante sentir confiança nas pessoas que estão presentes no trabalho de parto, deve haver compreensão, paciência, e respeito para com seus ritmos e tempos naturais de um parto.
- Massagem, os impulsos nervosos gerados pela massagem em determinadas regiões do corpo vão competir com as mensagens de dor que estão são enviadas ao cérebro, reduzindo as sensações de dor. São impulsos nervosos diferentes, competindo pelos mesmos receptores do cérebro. Essa massagem deve ser aplicada nos pés e mãos e funcionam como a técnica de contra-pressão (feita nas costas, na altura da borda superior da bacia). Massagens aplicadas nos ombros e pescoço são melhores entre as contrações e ajudam a relaxar. Já a massagem suave na barriga, braços e pernas dá a sensação de apoio físico e companheirismo.
- Relaxamento, não permita que o seu corpo lute contra a dilatação ou contra as dores por ela provocadas. Essa luta provoca tensão, que por sua vez desacelera o trabalho de parto e provoca mais dor. É assim que o relaxamento permite que seu útero faça o trabalho. Relaxar significa entre outras coisas desconectar-se das preocupações e do mundo exterior. As contrações devem ser vista como "amigas" por isso relaxe e abra o seu corpo, aceite as contrações como aliadas e não inemigas ou algo a evitar... são as contrações que vão fazer dilatar o seu colo do utero para a passagem do seu bebé...
- Meditação,
- Visualização, para muitas mulheres esse recurso é importante, pois promove o relaxamento e diminui as tensões. A parturiente pode visualizar o bebé a descer pela bacia, o bebé saindo pela vagina, o colo do utero a abrir coisas, etc.
- Vocalização,cantar,gritar,gemer,chorar, rir, etc
- A movimentação do corpo auxilia na mobilidade dos ossos da bacia e diminui o tempo de trabalho de parto, algumas posições servem para corrigir apresentações inadequadas do bebé, podem aumentar o fluxo sanguíneo do útero ou podem dar mais conforto. É comum médicos ou regras hospitalares restringirem a posição da parturiente, deitada de lado durante o trabalho de parto ou de costas na hora da expulsão.
- Ouvir música é relaxante para algumas mulheres, para outras pode ser fonte de perturbação. O importante é que cada mulher escolha se quer ou não quer música, quando e quais músicas devem ser tocadas durante o trabalho de parto.
- .....
Tudo é valido desde que faça sentido para si!
Quando nos sentimos confortáveis, seguras, acompanhadas de pessoas que nos são queridas, aumentamos a nossa capacidade de relaxar e assim concentramo-nos no trabalho de parto. O medo da dor é o principal inimigo da mulher em trabalho de parto. Quando há medo, aumenta a tensão, que aumenta a dor.
E perguntao voces... então e a epidural???? Não é segura?
Um procedimento dificilmente pode ser chamado de “seguro” quando aproximadamente um quarto (23%) das mulheres que levam a epídural tem complicações. São vários e sérios os riscos para as mulheres, a começar com a possibilidade da mulher poder morrer por causa da epídural. A taxa de mortalidade materna para mulheres em trabalho de partos normais que optam pela epídural é três vezes superior que para as mulheres em trabalhos de partos normais sem epídural. Em cada 500 epidurais administradas haverá um caso de paralisia temporária da mulher e de paralisia permanente em cada meio milhão de epidurais. A mulher tem entre 15 e 20% de hipótese de ter febre após ter levado a epídural, necessitando de avaliação diagnostica de possíveis infecções na mulher e no bebé, as quais podem por vezes ser invasivas, tal como uma punção lombar no bebé. Entre 15 e 35% das mulheres que levam a epídural virão a sofrer de problemas de retenção urinária depois do parto.
Cerca de 10% das anestesias epídural não funcionam e não há alívio da dor. Mesmo quando funciona, perto de um terço das mulheres que recebem a epídural trocam poucas horas de ausência de dor no trabalho de parto por dias ou semanas de dor depois do parto. 30 a 40% das mulheres que recebem a epídural durante o trabalho de parto terão fortes dores de costas depois do parto e 20% continuarão a ter um ano depois.
Muitos estudos científicos têm mostrado que as mulheres que levam a epídural para as dores de parto terão um período expulsivo consideravelmente mais longo. O que, por sua vez, resulta num risco quatro vezes superior relativamente ao recurso a fórceps ou ventosa e, no mínimo duas vezes maior de cesariana, e estas intervenções médicas durante o parto também levam aos seus próprios riscos. Enquanto muitas mulheres podem de livre vontade correr riscos para com elas próprias, é altamente irrazoável que de livre vontade coloquem os seus bebés em risco. Uma complicação frequente na mulher, depois da epídural iniciar o seu efeito é a súbita queda de pressão, originando uma redução da corrente sanguínea que vai através da placenta ao feto, resultando de uma suave a severa falta de oxigénio para o feto, como pode ser visto no monitor dos batimentos cardíacos fetais. Noutra estratégia típicamente “hich-tech” de uso de uma segunda intervenção de forma a remediar os efeitos da primeira, os técnicos de saúde administram na mulher uma grande dose de líquidos via intra venosa, de forma a tentarem prevenir a queda de pressão arterial causada pela epídural, mas isto nem sempre resulta. Na falta de oxigénio para o bebé durante a epídural recai a possibilidade, e o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia informa que a monitorização cardíaca fetal mostra severa hipoxia fetal de 8 a 12 por cento dos bebés cujas mães foi dada a epídural para as dores normais de parto. Há outros riscos para o bebé, alguns dados, inclusive sugerem função neurológica reduzida até um mês de idade dos bebés. A mais recente inovação na anestesia epídural, como a mudança do tipo de fármaco usado ou a quantidade, ou a “walking epidural” (epídural que possibilita o movimento) não eliminam estes riscos nem para a mulher, nem para o bebé.
Para saberem mais sobre epidural podem ler o artigo traduzido pela Bionascimento - Os Riscos Ocultos das Epidurais http://www.bionascimento.com/index.php?option=com_content&task=view&id=191&Itemid=0
O melhor plano para encarar a dor é senti-la como uma aliada no processo de fazer nascer o bebé. Acreditar que ela tem uma função fisiológica e tentar dar à luz num ambiente propício: sem imposições de terceiros, sem stress e sem intervenções desnecessárias. E confiar na Natureza. Se a dor de parto fosse realmente impossível de suportar, há muito que a Humanidade se tinha extinguido...
Bibliografia:
- Ana Cris Duarte - Amigas do Parto
- Iol Mãe
- Wagner M Pursuing the Birth Machine: the Search for Appropriate Birth Technology, ACE Graphics, Sydney & London 1994
- Goer, H The Thinking Woman's Guide to a Better Birth Penguin Putnam, New York, 1999
- Birth International
- Epídural-Marsden Wagner (ex-director da Saúde Materno Infantil da OMS) - traduzido por Bionascimento
terça-feira, 8 de julho de 2008
Aliviar a dor no trabalho de parto
Na nossa cultura, predominantemente judaico-cristã, as dores no parto são vistas como um castigo de Deus a Eva: "Multiplicarei as dores de tua gravidez, será na dor que vais parir os teus filhos" (Gênesis, III, 16).
A hospitalização do parto e a percepção cultural de que a dor é um sintoma de doença, resultaram na crença de que a dor no parto é dispensável logo deve ser suprimida.
Mas muitas mulheres desejam lidar com a dor no trabalho de parto e parto sem intervenções farmacológicas. Porquê?
Porque desejam ser protagonistas do seu parto, querem pouca interferência no processo fisiológico do nascimento e confiam no seu corpo para superar a barreira da dor, naturalmente.
Não é possível prever a intensidade da dor para cada parto. Cada mulher é única assim como cada parto.
Diversos factores podem influenciar a intensidade da dor:
- a tensão
- a ansiedade
- o medo do parto
- a motivação para o parto e a maternidade
- a paridade (primíparas referem mais dor que multíparas)
- a participação de cursos de preparação para o parto
- experiências dolorosas vividas antes do parto
- a posição da parturiente durante o trabalho de parto
- o uso de drogas para induzir ou aumentar as contrações uterinas
- ...
(A parturiente pode tentar todas as que quiser, sinta-se sempre confortável. O que propicia uma sensação de alívio para uma mulher pode não servir para outra e , com o avanço da dilatação, o que antes parecia confortável pode torna-se incomodo. )
Ambiente agradável:
- Pouca luz
- Som “calmo” (como pássaros, água a cor, o mar,...),
- Privacidade
- Aconchego
Mudar de posição
- Caminhar
- Balançar
- Dançar com o parceiro
- Sentar na “bola de pilates”
- Há muito se sabe que a gravida não deve ficar muito tempo deitada de barriga para cima. Muitos estudos mostram que a mulher sente menos dor se ficar na posição que lhe for mais confortável. Durante o trabalho de parto a dor fica menos intensa se a mulher se movimentar sem ficar “presa” à cama
Tocar
- Massagem - Diversos tipos de massagens podem ser feitos para alívio da dor no trabalho de parto. Em pontos de acupuntura, com gelo, com compressas quentes, no períneo, com óleos aromáticos, etc.
- Afagar/ acariciar
- Contrapressão na região lombar
Calor
- Banho de imersão comprovadamente alivia a dor, relaxa. Não tem nenhum efeito colateral importante ou contra-indicação
- Banho de chuveiro
- Compressas quentes
Frio
- Compressas frias
Cognitivo
- Visualização
- Afirmação
Outros
- Aromaterapia
- Vocalização
- Homeopatia
- Acumpultura,é uma alternativa não farmacológicas para o alívio da dor . Os pontos mais citados nos trabalhos publicados são os sacrais, principalmente o Ciliao (B32), que foram utilizados pela grande maioria dos autores, em conjunto com outros pontos ou isoladamente e foram estimulados com agulhas
Presença de acompanhante
- Outro factor que comprovadamente ajuda a parturiente no momento do parto, inclusive com redução dos níveis de dor, é a presença de uma pessoa como acompanhante durante o todo o trabalho de parto. Essa pessoa pode ser escolhida pela mulher (sendo o marido, a mãe, uma amiga), ou pode ser alguém especificamente treinado para o acompanhamento do trabalho de parto (doula).
- A presença da doula durante o trabalho de parto foi relacionada com menor dor, menor necessidade de analgesia, menor taxa de partos operatórios e maior satisfação com o parto
Espero ter ajudado!
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
"Aqueles que viveram entre tribos primitivas relatam-nos que eles tendem a não responder da mesma forma que nós ao desconforto físico e à dor da vida. Isto poderá dever-se em parte a uma visão do mundo, partilhada por todos na tribo, que não vê a natureza separada das pessoas, a mente separada do corpo, ou a dor separada do prazer.
Nós pagamos o preço pelo nosso vício do conforto pessoal. Nas sociedades tribais, as pessoas aceitam as experiências desagradáveis e o desconforto como parte da vida. Em vez de responderem à dor do parto com medo e negação, as mulheres são criadas para aceitá-la como uma parte integral e essencial da experiência do nascimento.
Para a maioria das mulheres, dar à luz um filho, requer uma descida abrupta a um lugar onde elas nunca estiveram na sua memória consciente. Hoje em dia, esta jornada é frequentemente feita com relutância, com pouca ou nenhuma visão do que está a acontecer e com pouca preparação real ou orientação. Poucas mulheres encontram no parto aquilo que esperavam. Uma parte ou outra, ou mesmo tudo, é sentido como arrebatador. Muitas mulheres nas sociedades modernas ficam chocadas com a dor do parto. As gerações passadas disseram que as mulheres precisam de sentir a dor do parto. Foi dito que apenas através desta dor uma mulher poderia aprender a amar o seu filho e ser uma boa mãe. Considerando a fonte de tais pronunciamentos – homens do clero, homens filósofos e médicos e homens legisladores, todos aliados contra o direito da mulher receber anestesia no parto, no final do Séc. XIX, não admira que as mulheres tenham tido, nos anos seguintes, desprezo por tais crenças. No entanto muitas mulheres que passaram pelo parto sem drogas mas beneficiando de um apoio carinhoso, afirmam que a experiência as mudou para sempre, pela positiva.
Porque é que as mulheres escolhem usar drogas no trabalho de parto?
Desde que há registo, os humanos sempre deram à luz sem recorrer ao uso de substâncias externas para alívio da intensidade e dor do parto. Excepto em raras e extremas circunstâncias, o senso comum ditava que qualquer coisa que a mãe tomasse poderia prejudicá-la ou ao bebé, ou inibir o processo de parto. Foi apenas nos últimos 75 anos que as mulheres passaram a ser rotineiramente drogadas ou anestesiadas para o parto. Este é um período de tempo muito curto, mas o suficiente para imprimir na nossa cultura a crença de que o parto requer o uso de drogas.
A maioria das sociedades tradicionais compreendeu que o parto produz um estado alterado de consciência que traz à mulher força e resistência extraordinárias e torna possível mesmo para uma mulher bastante frágil parir o seu filho sem assistência e sem uso de drogas mais fortes do que plantas. A maioria das culturas encontrou formas de ajudar uma mulher a manter a confiança e força interior durante o trabalho de parto e lidar com a dor das contracções. Apenas a cultura ocidental moderna construiu um sistema de atendimento baseado na crença patriarcal de que a mulher não é capaz de parir por si só e de que o corpo humano feminino não está desenhado para lidar com a dor do parto.
A principal razão pela qual as mulheres foram rotineiramente hospitalizadas para parir, no princípio do século XX, foi criar um ambiente controlado onde mais facilmente os médicos poderiam administrar drogas às mulheres em trabalho de parto. Actualmente a grande maioria das mulheres espera vir a precisar de drogas e acredita que deverá poder tê-las a pedido. Os médicos, na sua maioria, concordam com elas e encorajam o uso de drogas.
A principal diferença entre as mulheres que estão a parir nos dias de hoje e as suas avós é que estas acharam o processo de parto tão perturbador que nem queriam estar acordadas durante o mesmo, enquanto que hoje as mulheres querem estar acordadas, só não querem sentir dor.
Tradicionalmente, as mulheres têm cantado ou repetido orações para afastarem a sua mente da dor das contracções, ou para mudar o seu estado de consciência de forma a que a dor se torne apenas um elemento da experiência. Frequentemente, as mulheres hoje fazem o oposto: elas focam tanta atenção na dor, desde cedo na gravidez, durante as aulas de preparação para o parto, até ao dia do parto que acabam por se auto-programar para uma dor insuportável. Existe uma cultura inteira à volta de evitar a dor. Não apenas no parto mas em todos os aspectos da vida moderna. E muitas pessoas isolam a dor do parto como sendo de alguma forma diferente e particularmente insuportável. Perderam a visão da imagem como um todo e focam-se compulsivamente num único aspecto: o quanto o parto dói.
Qualquer pessoa que pratique exercício aeróbico, aprecie longos passeios ou jogging sabe quão fácil é tornar-se uma vítima das sensações do corpo, todas as dores e desconfortos que vêem quando fazemos coisas que puxam pelos nossos limites físicos. Se estivermos a escalar uma montanha e concentrarmos a nossa atenção no quão difícil a subida é, ou quão cansados estamos, ou quão tensos estão os nossos músculos, em como o nosso coração está a bater depressa ou a nossa falta de ar, podemos estar a massacrarmo-nos durante toda a escalada. Mas mantendo uma atitude positiva e focando a nossa atenção no prazer de estar de boa saúde e no meio da natureza fazem o esforço valer a pena. Ajuda admitirmos que o desconforto está lá, mas não nos sentirmos vítimas dele. E o propósito do parto afinal é o nascimento de uma criança".
Extraído de Suzanne Arms "Immaculate Deception II - Myth. Magic & Birth.
Tradução de Carla Guiomar
retirado de http://doulasdeportugal.blogspot.com
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
O porquê da dor
Na nossa cultura, o parto é na grande maior parte das vezes vivenciado e relatado como um evento em que está presente uma dor que beira o insuportável. Será necessário que seja assim? Vejamos...
Primeiramente há o aspecto evolutivo. O parto humano é o que apresenta a relação céfalo- pélvica mais estreita da natureza. Um dia resolvemos descer das árvores e caminhar sobre duas pernas. Outro dia resolvemos engrossar nossa camada de neo-córtex cerebral: resultamos bípedes e cabeçudos, porque somos metidos a não ser bestas. E na hora de parir nossos filhotes, os processos musculares de contração das paredes e dilatação do colo uterino, mais os movimentos do bebê empurrando-se para fora ocorrem sem folga de espaço, e as sensações fortes* que esses processos produzem podem ser interpretados como “dor”, e potencializados em sensações ainda mais dolorosas se houver medo, insegurança, ou ação de hormônios artificiais como se costuma aplicar através de soro às mulheres em trabalho de parto com o objetivo de acelerar o processo, atingindo níveis de fato insuportáveis. Em "Correntes da Vida", o psicoterapeuta inglês David Boadella** descreve o comportamento uterino em trabalho de parto quando a mãe sente qualquer tipo de medo – consciente ou inconsciente:
“(...) o útero tenta fazer duas coisas antagônicas ao mesmo tempo: tenta abrir-se, sob a influência do relógio biológico que atua através do hormônio que prepara o caminho para o bebê nascer; e, simultaneamente, tenta manter-se fechado, sob a influência dos nervos simpáticos, trazidos à ação pelo medo. É como se alguém quisesse dobrar e esticar o braço ao mesmo tempo; o braço teria um espasmo, que causaria dor. isso é exatamente o que acontece com o útero de uma mãe que é incapaz de relaxar e que está condicionada a sentir dor.”
Mas por que a mulher está condicionada a sentir dor? Um dos motivos é o arquétipo do parto doloroso em conseqüência do pecado original, como reza nossa cultura judaico-cristã. Ao expulsar Adão e Eva do Paraíso por terem provado do fruto do Conhecimento, o Criador lhes diz: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos” (Gênesis 3:16). Ora, como não sentir dor se o próprio Deus a determina? O arquétipo do parto como sofrimento foi literalmente in-corporado baixo a quase 6.000 anos de crença.
Outro aspecto importante, é o caráter fisiológico do parto. Esta noção não faz parte do senso comum: de que o ato de parir (assim como gestar e amamentar) é tão fisiológico e saudável quanto respirar, digerir, filtrar o sangue, pensar, absorver nutrientes, excretar, chorar, ouvir, enxergar, fazer sexo, fazer amor. Mas na nossa cultura, uma mulher grávida é vista como alguém sob risco potencial e iminente, o parto é visto como um evento necessariamente hospitalar e na maioria das vezes, cirúrgico. Ao transformar um evento potencialmente saudável em necessariamente patológico, a dor encontra campo fértil para ser identificada como tal. Está aí um dos fatores que levam tantas mulheres a sentir pavor pelo parto normal.
A dor tida por alucinante pode ser percebida como lidável quando a mulher, em primeiro lugar subtrai-lhe a parcela da dor propriamente dita, advinda do medo e da insegurança; o restante das sensações, ela pode converter em sensações lidáveis ao aceitar a natureza do seu corpo, aceitar as sensações do trabalho de parto não como alguma coisa a vencer, contra as quais se deve lutar - porque elas não resultam de uma patologia, não sinalizam alguma coisa que está errada, como uma fratura ou queimadura, por exemplo. Não. Essa sensação é uma aliada que sinaliza o processo fisiológico do parto, levando a mulher a fazer força, ou a se contorcer, a gemer, a acocorar-se ou a procurar a banheira, e entre as contrações as sensações atenuam, como ondas***, e você pode relaxar. As sensações intensas levam ao transe, e esse transe tem que ser aproveitado, ele faz parte. Você não precisa de anestésicos, ordem pra fazer força, fórceps. Você precisa apenas de liberdade para vivenciar seu parto.
O parto é você, é o seu corpo em plena atividade, e você não deveria deixar esta parte de você ser subtraída por uma conveniência que vem de fora. Existem séculos de uma cultura desfeminilizante costurando essa rede em que se cai tão facilmente, como eu mesma caí nos meus partos. Não é a mulher que precisa da anestesia, são os outros que precisam do conforto de uma mulher parindo quietinha.
E há outro aspecto que eu acho muito interessante que é a coisa do ritual de passagem. Nós cultivamos algumas manifestações externas de rituais, como casamentos, batizados, bar-mitzvahs, aniversários, festas da primavera, e essas festas refletem a nossa necessidade humana de marcar as passagens das fases, de criança inimputável para o adulto responsável, da vida individual para a vida em família, de um período de dureza para outro de fartura, enfim, quando passamos de uma fase para outra sem essa marca fica faltando alguma coisa. Tive um tio que foi tratado com hormônios nos anos 40 para acelerar seu crescimento. Na verdade ele foi cobaia das primeiras experimentações com hormônios no Brasil. De um dia para o outro ganhou pelos pelo corpo, engrossou a voz, a adolescência que deveria prepará-lo vagarosamente para a idade adulta veio num turbilhão que ele não deu conta e ninguém à volta dele compreendeu. Ele enlouqueceu.
Assim é com o parto. Quando se tenta ao máximo passar por ele como se nada tivesse acontecido - e o ápice disso é a cesárea eletiva, está-se pulando um ritual fundamental para o início da maternidade. E o efeito cascata começa: dificuldade de estabelecer vínculo com o bebê, depressão pós-parto, "falta" de leite, intolerância ao comportamento do bebê. O parto normal cheio de intervenções, do qual se diz "ah, foi uma beleza, não senti na-da!!! fiquei ali, conversando, e em xis (poucas) horas o bebê nasceu!!" não é muito menos maquiagem da passagem. Sim, "de repente" o bebê estava ali. E ela não precisou fazer nada. Inicia-se a maternidade com a sensação de que "não é preciso fazer nada" para ser mãe. E começa a transferência de responsabilidade... impulsionada pela sensação inconsciente de que a maternidade moderna NÃO PODE ser trabalhosa. E esse caráter trabalhoso que a maternidade efetivamente tem, não é, como nossa sociedade acredita, um sofrimento, um castigo do qual devemos nos livrar. Ao contrário, ela contém o extremo prazer que sentem as pessoas que superam desafios, convivendo com as mudanças no corpo e na vida pelo prazer que isso traz, em oposição à compulsão de querer lutar contra as mudanças irreversíveis promovidas pela chegada dos filhos.
O processo do parto vem sendo aprimorado há milhões de anos (ou milhares, depende do critério), e a humanidade definitivamente não aperfeiçoou este processo agregando-lhe tecnologia, apenas o corrompeu. Anestesia, ocitocina na veia, posição horizontal, raspagens, submissão a alguém como dono do parto, kristeller, amniotomia, episiotomia, tudo isso num trabalho de parto que está transcorrendo sem intercorrências, não é evolução: é perversão. Das grossas. Você e seu bebê não precisam de mais nada além dos seus corpos com seus hormônios para permitir o nascimento.
Precisamos desconstruir o conceito de parto doloroso, e compreender e desejar e conquistar o parto prazeroso, não importa quão trabalhoso ele possa ser. Não se deixem levar pela inércia do sistema obstétrico vigente, que inadvertidamente vampiriza a força, a beleza e a vida que mãe e bebê protagonizam no ato de parir e nascer.
* definição da Éllade França
** contribuição da Anita Cione
*** definição de Michel Odent
Roselene Nogueira
Mãe de Heloisa, Beatriz e Isabela (3 partos normais hospitalares)
retirado www.partodoprincipio.com.br