A gente pode dissecar a questão da dor (do parto) de infinitos modos, pois não se trata de uma grandeza absoluta, não mede xis unidades de qualquer coisa. Ela é relativa, e a múltiplos fatores combinados entre si, físicos e psíquicos, conscientes e inconscientes, e a combinação de todos eles produz a percepção psico-física dentro de limiares individuais.
Na nossa cultura, o parto é na grande maior parte das vezes vivenciado e relatado como um evento em que está presente uma dor que beira o insuportável. Será necessário que seja assim? Vejamos...
Primeiramente há o aspecto evolutivo. O parto humano é o que apresenta a relação céfalo- pélvica mais estreita da natureza. Um dia resolvemos descer das árvores e caminhar sobre duas pernas. Outro dia resolvemos engrossar nossa camada de neo-córtex cerebral: resultamos bípedes e cabeçudos, porque somos metidos a não ser bestas. E na hora de parir nossos filhotes, os processos musculares de contração das paredes e dilatação do colo uterino, mais os movimentos do bebê empurrando-se para fora ocorrem sem folga de espaço, e as sensações fortes* que esses processos produzem podem ser interpretados como “dor”, e potencializados em sensações ainda mais dolorosas se houver medo, insegurança, ou ação de hormônios artificiais como se costuma aplicar através de soro às mulheres em trabalho de parto com o objetivo de acelerar o processo, atingindo níveis de fato insuportáveis. Em "Correntes da Vida", o psicoterapeuta inglês David Boadella** descreve o comportamento uterino em trabalho de parto quando a mãe sente qualquer tipo de medo – consciente ou inconsciente:
“(...) o útero tenta fazer duas coisas antagônicas ao mesmo tempo: tenta abrir-se, sob a influência do relógio biológico que atua através do hormônio que prepara o caminho para o bebê nascer; e, simultaneamente, tenta manter-se fechado, sob a influência dos nervos simpáticos, trazidos à ação pelo medo. É como se alguém quisesse dobrar e esticar o braço ao mesmo tempo; o braço teria um espasmo, que causaria dor. isso é exatamente o que acontece com o útero de uma mãe que é incapaz de relaxar e que está condicionada a sentir dor.”
Mas por que a mulher está condicionada a sentir dor? Um dos motivos é o arquétipo do parto doloroso em conseqüência do pecado original, como reza nossa cultura judaico-cristã. Ao expulsar Adão e Eva do Paraíso por terem provado do fruto do Conhecimento, o Criador lhes diz: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos” (Gênesis 3:16). Ora, como não sentir dor se o próprio Deus a determina? O arquétipo do parto como sofrimento foi literalmente in-corporado baixo a quase 6.000 anos de crença.
Outro aspecto importante, é o caráter fisiológico do parto. Esta noção não faz parte do senso comum: de que o ato de parir (assim como gestar e amamentar) é tão fisiológico e saudável quanto respirar, digerir, filtrar o sangue, pensar, absorver nutrientes, excretar, chorar, ouvir, enxergar, fazer sexo, fazer amor. Mas na nossa cultura, uma mulher grávida é vista como alguém sob risco potencial e iminente, o parto é visto como um evento necessariamente hospitalar e na maioria das vezes, cirúrgico. Ao transformar um evento potencialmente saudável em necessariamente patológico, a dor encontra campo fértil para ser identificada como tal. Está aí um dos fatores que levam tantas mulheres a sentir pavor pelo parto normal.
A dor tida por alucinante pode ser percebida como lidável quando a mulher, em primeiro lugar subtrai-lhe a parcela da dor propriamente dita, advinda do medo e da insegurança; o restante das sensações, ela pode converter em sensações lidáveis ao aceitar a natureza do seu corpo, aceitar as sensações do trabalho de parto não como alguma coisa a vencer, contra as quais se deve lutar - porque elas não resultam de uma patologia, não sinalizam alguma coisa que está errada, como uma fratura ou queimadura, por exemplo. Não. Essa sensação é uma aliada que sinaliza o processo fisiológico do parto, levando a mulher a fazer força, ou a se contorcer, a gemer, a acocorar-se ou a procurar a banheira, e entre as contrações as sensações atenuam, como ondas***, e você pode relaxar. As sensações intensas levam ao transe, e esse transe tem que ser aproveitado, ele faz parte. Você não precisa de anestésicos, ordem pra fazer força, fórceps. Você precisa apenas de liberdade para vivenciar seu parto.
O parto é você, é o seu corpo em plena atividade, e você não deveria deixar esta parte de você ser subtraída por uma conveniência que vem de fora. Existem séculos de uma cultura desfeminilizante costurando essa rede em que se cai tão facilmente, como eu mesma caí nos meus partos. Não é a mulher que precisa da anestesia, são os outros que precisam do conforto de uma mulher parindo quietinha.
E há outro aspecto que eu acho muito interessante que é a coisa do ritual de passagem. Nós cultivamos algumas manifestações externas de rituais, como casamentos, batizados, bar-mitzvahs, aniversários, festas da primavera, e essas festas refletem a nossa necessidade humana de marcar as passagens das fases, de criança inimputável para o adulto responsável, da vida individual para a vida em família, de um período de dureza para outro de fartura, enfim, quando passamos de uma fase para outra sem essa marca fica faltando alguma coisa. Tive um tio que foi tratado com hormônios nos anos 40 para acelerar seu crescimento. Na verdade ele foi cobaia das primeiras experimentações com hormônios no Brasil. De um dia para o outro ganhou pelos pelo corpo, engrossou a voz, a adolescência que deveria prepará-lo vagarosamente para a idade adulta veio num turbilhão que ele não deu conta e ninguém à volta dele compreendeu. Ele enlouqueceu.
Assim é com o parto. Quando se tenta ao máximo passar por ele como se nada tivesse acontecido - e o ápice disso é a cesárea eletiva, está-se pulando um ritual fundamental para o início da maternidade. E o efeito cascata começa: dificuldade de estabelecer vínculo com o bebê, depressão pós-parto, "falta" de leite, intolerância ao comportamento do bebê. O parto normal cheio de intervenções, do qual se diz "ah, foi uma beleza, não senti na-da!!! fiquei ali, conversando, e em xis (poucas) horas o bebê nasceu!!" não é muito menos maquiagem da passagem. Sim, "de repente" o bebê estava ali. E ela não precisou fazer nada. Inicia-se a maternidade com a sensação de que "não é preciso fazer nada" para ser mãe. E começa a transferência de responsabilidade... impulsionada pela sensação inconsciente de que a maternidade moderna NÃO PODE ser trabalhosa. E esse caráter trabalhoso que a maternidade efetivamente tem, não é, como nossa sociedade acredita, um sofrimento, um castigo do qual devemos nos livrar. Ao contrário, ela contém o extremo prazer que sentem as pessoas que superam desafios, convivendo com as mudanças no corpo e na vida pelo prazer que isso traz, em oposição à compulsão de querer lutar contra as mudanças irreversíveis promovidas pela chegada dos filhos.
O processo do parto vem sendo aprimorado há milhões de anos (ou milhares, depende do critério), e a humanidade definitivamente não aperfeiçoou este processo agregando-lhe tecnologia, apenas o corrompeu. Anestesia, ocitocina na veia, posição horizontal, raspagens, submissão a alguém como dono do parto, kristeller, amniotomia, episiotomia, tudo isso num trabalho de parto que está transcorrendo sem intercorrências, não é evolução: é perversão. Das grossas. Você e seu bebê não precisam de mais nada além dos seus corpos com seus hormônios para permitir o nascimento.
Precisamos desconstruir o conceito de parto doloroso, e compreender e desejar e conquistar o parto prazeroso, não importa quão trabalhoso ele possa ser. Não se deixem levar pela inércia do sistema obstétrico vigente, que inadvertidamente vampiriza a força, a beleza e a vida que mãe e bebê protagonizam no ato de parir e nascer.
* definição da Éllade França
** contribuição da Anita Cione
*** definição de Michel Odent
Roselene Nogueira
Mãe de Heloisa, Beatriz e Isabela (3 partos normais hospitalares)
retirado www.partodoprincipio.com.br
Sobre o blog:
“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones
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segunda-feira, 12 de novembro de 2007
domingo, 11 de novembro de 2007
Obstipação
A obstipação é um problema para muitas mulheres durante
a gravidez, particularmente no último trimestre.
Estudos de observação constataram que a modificação da
dieta, o consumo de líquidos e o exercício trazem alívio para
muitas mulheres. Mais recentemente, o interesse concentrou-se
no consumo suplementar moderado de fibras para reduzir
a obstipação. Um pequeno estudo randomizado comparando
duas formas de dieta com suplemento de farelo e sem
suplemento, as gravidas com obstipação que receberam
suplementação de fibras tiveram um número de movimentos
intestinais aumentado em comparação com as mulheres não tratadas.
Todavia, muitas mulheres com obstipação podem necessitar
de laxantes se as condutas fisiológicas não proporcionarem
alívio. Os laxantes geralmente são classificados pelo seu
mecanismo de ação. Os agentes formadores de volume (derivados
de polissacarídeos e/ou celulose) e os amolecedores das
fezes com detergentes (os dioctilsulfossucinatos) são seguros
durante a gravidez, porque são inertes e não absorvidos. Alguns
laxantes, como os difenilmetanos (por ex., bisacodil e
fenolftaleína), as antraquinonas (aloe, cáscara e sene) e o óleo
de rícino, exercem sua ação irritante sobre o intestino. Os efeitos
colaterais maternos mais comuns incluem cólica ou dor
súbita, aumento da secreção de muco e catarse excessiva com
conseqüente perda de líquido. O uso crônico de laxantes irritantes
pode resultar em perda da função intestinal normal e
dependência de laxantes. Esses laxantes irritantes são todos
absorvidos sistemicamente. A maioria deles
provavelmente atravessa a placenta, mas há poucas informações
sobre possíveis efeitos sobre o feto.
Os catárticos salinos (sais de magnésio, sódio e potássio) e
lubrificantes (como óleos minerais) não devem ser usados
durante a gravidez; os primeiros devido ao risco de induzir
distúrbios eletrolíticos e os outros porque interferem com a
absorção de vitaminas lipossolúveis.
O conselho inicial para mulheres com constipação deve ser
usar medidas fisiológicas e aumentar o consumo de fibras. Os
agentes formadores de volume e os amolecedores das fezes são
seguros para uso prolongado durante a gravidez e a lactação.
Se essas preparações não aliviarem os sintomas, deve-se usar
laxantes irritantes como o sene ou o bisacodil padronizados
por curto período. Não devem ser usados catárticos salinos e
óleos lubrificantes.
Adaptado do "Guia para atenção efetiva na gravidez e no parto"
a gravidez, particularmente no último trimestre.
Estudos de observação constataram que a modificação da
dieta, o consumo de líquidos e o exercício trazem alívio para
muitas mulheres. Mais recentemente, o interesse concentrou-se
no consumo suplementar moderado de fibras para reduzir
a obstipação. Um pequeno estudo randomizado comparando
duas formas de dieta com suplemento de farelo e sem
suplemento, as gravidas com obstipação que receberam
suplementação de fibras tiveram um número de movimentos
intestinais aumentado em comparação com as mulheres não tratadas.
Todavia, muitas mulheres com obstipação podem necessitar
de laxantes se as condutas fisiológicas não proporcionarem
alívio. Os laxantes geralmente são classificados pelo seu
mecanismo de ação. Os agentes formadores de volume (derivados
de polissacarídeos e/ou celulose) e os amolecedores das
fezes com detergentes (os dioctilsulfossucinatos) são seguros
durante a gravidez, porque são inertes e não absorvidos. Alguns
laxantes, como os difenilmetanos (por ex., bisacodil e
fenolftaleína), as antraquinonas (aloe, cáscara e sene) e o óleo
de rícino, exercem sua ação irritante sobre o intestino. Os efeitos
colaterais maternos mais comuns incluem cólica ou dor
súbita, aumento da secreção de muco e catarse excessiva com
conseqüente perda de líquido. O uso crônico de laxantes irritantes
pode resultar em perda da função intestinal normal e
dependência de laxantes. Esses laxantes irritantes são todos
absorvidos sistemicamente. A maioria deles
provavelmente atravessa a placenta, mas há poucas informações
sobre possíveis efeitos sobre o feto.
Os catárticos salinos (sais de magnésio, sódio e potássio) e
lubrificantes (como óleos minerais) não devem ser usados
durante a gravidez; os primeiros devido ao risco de induzir
distúrbios eletrolíticos e os outros porque interferem com a
absorção de vitaminas lipossolúveis.
O conselho inicial para mulheres com constipação deve ser
usar medidas fisiológicas e aumentar o consumo de fibras. Os
agentes formadores de volume e os amolecedores das fezes são
seguros para uso prolongado durante a gravidez e a lactação.
Se essas preparações não aliviarem os sintomas, deve-se usar
laxantes irritantes como o sene ou o bisacodil padronizados
por curto período. Não devem ser usados catárticos salinos e
óleos lubrificantes.
Adaptado do "Guia para atenção efetiva na gravidez e no parto"
Náuseas e vómitos
As náuseas e vómitos estão entre os sintomas mais frequentes,
os mais característicos e talvez os mais incómodos do início
da gravidez. Quase 75% das gravidas apresentam
náuseas, e uma em cada 10 apresenta persistência do distúrbio
depois do primeiro trimestre. Apesar do nome popular “enjoo
matinal”, muitas mulheres têm o sintoma durante todo o
dia. Frequentemente é mais intenso e mais duradouro nas
mulheres com gravidez múltipla.
Felizmente, a forma mais grave de náusea e vómito
(hiperêmese gravídica), com desidratação e distúrbio
eletrolítico, é rara.
As causas de náuseas na gravidez ainda são desconhecidas,
e a variedade de tratamentos recomendados reflecte as muitas
teorias sobre as causas. Como poderia ser esperado de uma
condição auto limitada, estudos não-controlados desses “tratamentos”
mostraram resultados sensacionais, mas falsos. Em
contraste, os resultados dos estudos controlados foram menos
impressionantes.
Recentemente, o uso de antieméticos diminuiu devido a
temores possivelmente justificados dos efeitos da medicação
sobre o feto. Frequentemente são preferidas condutas não farmacêuticas
para aliviar náuseas e vómitos, particularmente
durante as primeiras semanas, quando o feto em desenvolvimento
é mais vulnerável. Sugestões comuns sobre repouso
e dieta para mulheres com náuseas ou vómitos durante a
gravidez não foram avaliadas em estudos randomizados, mas
tendem a ser inofensivas, e podem ser úteis. Pequenas quantidades
de carboidratos, como biscoitos ou bananas, podem
aliviar algumas mulheres, e se forem retidas proporcionarão
a nutrição necessária. O repouso pode ser impossível quando
as mulheres têm outras responsabilidades, como um
emprego ou filhos pequenos, mas pode ser útil quando possível.
Uma conduta não-convencional, que utiliza acupressão no
ponto Neiguan (P6) no punho, foi avaliada em vários estudos
randomizados controlados por placebo. Os estudos foram pequenos,
mas sugerem que a acupressão pode reduzir a frequência
de náusea persistente. As pulseiras antienjôo comuns usadas
para enjôos em viagens podem ajudar algumas mulheres,
e não tendem a causar danos. O papel da acupressão merece
avaliação adicional.
A vitamina B6 (piridoxina) foi testada em dois estudos. Seus
resultados sugerem que a vitamina B6 pode ser efectiva na redução
da intensidade da náusea, mas não está claro em que
grau. As indicações de qualquer efeito sobre o vómito são
inconclusivas. No caso de hiperêmese, o gengibre em pó e o
ACTH foram comparados com placebo, mas esses estudos
foram pequenos demais para permitir quaisquer conclusões
fidedignas.
Vários estudos, realizados principalmente nas décadas de
1950 e 1960, demonstraram que diversos anti-histamínicos
são melhores que os placebos. Um estudo da dramamina
mostrou que ela é menos efectiva isoladamente do que quando
associada à benzilamina. Os anti-histamínicos simples geralmente
são considerados seguros durante a gravidez, embora
algumas vezes causem efeitos colaterais perturbadores. Não foram realizados grandes
estudos epidemiológicos para pesquisar possíveis efeitos adversos
sobre o feto.
Antigamente, a droga mais usada no tratamento de náuseas
e vómitos da gravidez era uma substância contendo o antihistamínico
succinato de doxilamina e piridoxina (comercializada
como Debendox no Reino Unido, como Bendectin nos
Estados Unidos e no Canadá e como Lenotan em alguns outros
países). Os três pequenos estudos controlados com placebo
publicados fornecem indicações razoáveis de que o Debendox
aliviava as náuseas durante a gravidez. Foi retirado do mercado
em 1983 em consequência de processos judiciais contra os
fabricantes. Houve alegações de que a droga causara malformações
congénitas quando usada na gravidez. Na época de seu
recall, o Debendox havia sido usado por mais de 30 milhões
de mulheres em todo o mundo. Em muitos países, um quarto
a um terço de todas as gestantes usaram Debendox. Se as
malformações congénitas ocorrem em 3,5% dos bebés, apenas
acidentalmente o Debendox teria sido usado pelas mães
de mais de um milhão de bebés nascidos com malformação
congénita. Na inevitável busca do que pode ter causado as
malformações nas crianças, não causa surpresa que muitas mães
tenham apontado o Debendox.
O processo ocorreu apesar de muitas evidências contra o fato
de o Debendox ser teratogênico. Nos 19 estudos epidemiológicos
sobre o Debendox, há um amplo consenso de que a droga
não está associada a aumento do risco de malformações congénitas.
Apesar da súbita retirada do Debendox do mercado, não
houve redução correlacionada na incidência descrita de qualquer
grupo de malformações. A remoção do Debendox provavelmente
levou a aumento do uso de outros medicamentos para tratamento
das náuseas e vómitos cujo uso, isoladamente, foi submetido
a muito menos estudos em seres humanos.
Se for usado um antiemético durante a gravidez, a opção
actual frequentemente é um anti-histamínico. Essas substâncias
parecem ser eficazes, conforme demonstrado pelos estudos
iniciais, mas sua segurança não foi tão bem estudada.
adaptado do "Guia para atenção efetiva na gravidez e no parto"
os mais característicos e talvez os mais incómodos do início
da gravidez. Quase 75% das gravidas apresentam
náuseas, e uma em cada 10 apresenta persistência do distúrbio
depois do primeiro trimestre. Apesar do nome popular “enjoo
matinal”, muitas mulheres têm o sintoma durante todo o
dia. Frequentemente é mais intenso e mais duradouro nas
mulheres com gravidez múltipla.
Felizmente, a forma mais grave de náusea e vómito
(hiperêmese gravídica), com desidratação e distúrbio
eletrolítico, é rara.
As causas de náuseas na gravidez ainda são desconhecidas,
e a variedade de tratamentos recomendados reflecte as muitas
teorias sobre as causas. Como poderia ser esperado de uma
condição auto limitada, estudos não-controlados desses “tratamentos”
mostraram resultados sensacionais, mas falsos. Em
contraste, os resultados dos estudos controlados foram menos
impressionantes.
Recentemente, o uso de antieméticos diminuiu devido a
temores possivelmente justificados dos efeitos da medicação
sobre o feto. Frequentemente são preferidas condutas não farmacêuticas
para aliviar náuseas e vómitos, particularmente
durante as primeiras semanas, quando o feto em desenvolvimento
é mais vulnerável. Sugestões comuns sobre repouso
e dieta para mulheres com náuseas ou vómitos durante a
gravidez não foram avaliadas em estudos randomizados, mas
tendem a ser inofensivas, e podem ser úteis. Pequenas quantidades
de carboidratos, como biscoitos ou bananas, podem
aliviar algumas mulheres, e se forem retidas proporcionarão
a nutrição necessária. O repouso pode ser impossível quando
as mulheres têm outras responsabilidades, como um
emprego ou filhos pequenos, mas pode ser útil quando possível.
Uma conduta não-convencional, que utiliza acupressão no
ponto Neiguan (P6) no punho, foi avaliada em vários estudos
randomizados controlados por placebo. Os estudos foram pequenos,
mas sugerem que a acupressão pode reduzir a frequência
de náusea persistente. As pulseiras antienjôo comuns usadas
para enjôos em viagens podem ajudar algumas mulheres,
e não tendem a causar danos. O papel da acupressão merece
avaliação adicional.
A vitamina B6 (piridoxina) foi testada em dois estudos. Seus
resultados sugerem que a vitamina B6 pode ser efectiva na redução
da intensidade da náusea, mas não está claro em que
grau. As indicações de qualquer efeito sobre o vómito são
inconclusivas. No caso de hiperêmese, o gengibre em pó e o
ACTH foram comparados com placebo, mas esses estudos
foram pequenos demais para permitir quaisquer conclusões
fidedignas.
Vários estudos, realizados principalmente nas décadas de
1950 e 1960, demonstraram que diversos anti-histamínicos
são melhores que os placebos. Um estudo da dramamina
mostrou que ela é menos efectiva isoladamente do que quando
associada à benzilamina. Os anti-histamínicos simples geralmente
são considerados seguros durante a gravidez, embora
algumas vezes causem efeitos colaterais perturbadores. Não foram realizados grandes
estudos epidemiológicos para pesquisar possíveis efeitos adversos
sobre o feto.
Antigamente, a droga mais usada no tratamento de náuseas
e vómitos da gravidez era uma substância contendo o antihistamínico
succinato de doxilamina e piridoxina (comercializada
como Debendox no Reino Unido, como Bendectin nos
Estados Unidos e no Canadá e como Lenotan em alguns outros
países). Os três pequenos estudos controlados com placebo
publicados fornecem indicações razoáveis de que o Debendox
aliviava as náuseas durante a gravidez. Foi retirado do mercado
em 1983 em consequência de processos judiciais contra os
fabricantes. Houve alegações de que a droga causara malformações
congénitas quando usada na gravidez. Na época de seu
recall, o Debendox havia sido usado por mais de 30 milhões
de mulheres em todo o mundo. Em muitos países, um quarto
a um terço de todas as gestantes usaram Debendox. Se as
malformações congénitas ocorrem em 3,5% dos bebés, apenas
acidentalmente o Debendox teria sido usado pelas mães
de mais de um milhão de bebés nascidos com malformação
congénita. Na inevitável busca do que pode ter causado as
malformações nas crianças, não causa surpresa que muitas mães
tenham apontado o Debendox.
O processo ocorreu apesar de muitas evidências contra o fato
de o Debendox ser teratogênico. Nos 19 estudos epidemiológicos
sobre o Debendox, há um amplo consenso de que a droga
não está associada a aumento do risco de malformações congénitas.
Apesar da súbita retirada do Debendox do mercado, não
houve redução correlacionada na incidência descrita de qualquer
grupo de malformações. A remoção do Debendox provavelmente
levou a aumento do uso de outros medicamentos para tratamento
das náuseas e vómitos cujo uso, isoladamente, foi submetido
a muito menos estudos em seres humanos.
Se for usado um antiemético durante a gravidez, a opção
actual frequentemente é um anti-histamínico. Essas substâncias
parecem ser eficazes, conforme demonstrado pelos estudos
iniciais, mas sua segurança não foi tão bem estudada.
adaptado do "Guia para atenção efetiva na gravidez e no parto"
sábado, 27 de outubro de 2007
Gravidez: incómodos que podem ser aliviados através da alimentação

A gravidez traz consigo alguns incómodos que todas temos de suportar com maior ou menor gravidade. Para aliviar alguns desses incómodos, saiba quais os conselhos alimentares da dietista Cláudia Viegas.
- Enjoos matinais
Um terço a metade das grávidas tem enjoos matinais. Para aliviá-los, deve beber muitos líquidos, tais como sumos de fruta e de vegetais, leite sopas e caldos. Para além disso, faça refeições frequentes e ligeiras.
O estômago vazio pode desencadear o enjoo. Por este motivo, uma refeição ligeira rica em proteínas pode ajudar a reduzir enjoos e os vómitos, desde que ingerida à hora de deitar ou logo de manhã antes de sair da cama.
Evite os alimentos gordurosos ou muito condimentados. Faça uma alimentação rica em fruta (não abusando das frutas ricas em açúcar, particularmente uvas e pêras), proteínas, como a carne magra e peixe, e hidratos de carbono complexos (amido e fibras), como os produtos integrais.
Suprima os alimentos cujo cheiro lhe cause repugnância. Beba um grande copo de água cada vez que a fome surja fora das refeições. Mastigue prolongadamente pastilhas elásticas (sem açúcar, de preferência).
- Prisão de ventre
É comum verificar-se uma passagem pouco frequente ou difícil de fezes duras e secas. Isto acontece porque a progesterona relaxa os músculos dos intestinos, o que abranda as contracções que fazem movimentar as fezes. Quando o movimento é lento, a água é mais absorvida, fazendo com que as fezes se tornem duras e secas. Por este motivo, deve fazer exercício regularmente.
No caso de se estar a tomar comprimidos de ferro, tome-os logo após as refeições, pois assim serão absorvidos mais facilmente, sendo menos provável que agravem a prisão de ventre. Não utilize laxativos nem clisteres.
Deve beber seis a oito copos de líquidos por dia e fazer uma alimentação rica em fibras (fruta, frutos secos, legumes e produtos integrais).
- Retenção de líquidos
As mãos podem inchar e os anéis deixarem de servir. Os tornozelos podem inchar e os sapatos ficarem apertados. Isto acontece porque durante a gravidez a quantidade de líquidos retidos pelo organismo aumenta. Deve-se, por isso, evitar os alimentos com muito sal.
- Micções frequentes
Podem ser causadas pela actividade hormonal, por uma maior ingestão de líquidos devido ao aumento da sede, e pela pressão exercida pelo útero e sobre a bexiga. Deve diminuir a ingestão de líquidos pouco antes de ir para a cama.
- Gases
Por vezes verificam-se dores no abdómen, e ruídos e dilatação no estômago, porque os músculos menos enérgicos do intestino podem dificultar a passagem dos gases. A dilatação ou os espasmos intestinais podem provocar dores.
Mastigue bem a comida e coma devagar. Comer muito depressa faz com que se engula mais ar. Faça uma alimentação rica em fibras para evitar a prisão de ventre e evite alimentos fritos e muito condimentados.
- Pirose
Verifica-se, por vezes, uma dor ardente no peito por detrás do esterno. A dor pode piorar na posição deitada ou depois de comer. Isto deve-se ao facto de o músculo que está situado à entrada do estômago afrouxar durante a gravidez, deixando que a comida misturada com os ácidos gástricos seja empurrada para cima, para dentro do esófago.
Não se deite durante, pelo menos, duas horas depois de comer. Beba um copo de leite mesmo antes de ir para a cama. Não coma demais e evite alimentos fritos ou muito condimentados, especialmente de noite.
Fraccione as refeições e evite alimentos irritantes. Entre os legumes, escolha os menos ácidos, eliminando o tomate, por exemplo.
Beba água da torneira e não as águas alcalinas ou gaseificadas. O chá, café, álcool, tabaco e especiarias são desaconselhados.
- Hemorróidas
Podem verificar-se comichões, inflamação e dores em volta do ânus, e possivelmente sangue ao defecar, porque nas últimas fases da gravidez a pressão do útero pode provocar hemorróidas (veias dilatadas em volta do ânus).
Faça uma alimentação rica em fibras e beba muitos líquidos para evitar a prisão de ventre.
- Irritações cutâneas
Podem surgir irritações vermelhas e escamosas nas dobras da pele (debaixo dos seios ou nas virilhas, por exemplo), provocadas pela fricção das superfícies da pele. Evite engordar muito, mantendo uma alimentação equilibrada.
- Estrias
Apresentam-se como linhas vermelhas na pele do abdómen, seios ou coxas. As estrias não desaparecem completamente, mas esbatem-se aos poucos. São provocadas pelo retesamento da pele. Evite engordar muito, mantendo uma alimentação equilibrada.
- Transpiração
Pode verificar-se também uma transpiração excessiva depois de alguns ou nenhuns esforços. A mulher pode acordar à noite sentindo-se quente e suada. Isto deve-se às alterações hormonais que dilatam os vasos sanguíneos periféricos. Estas alterações fazem aumentar a irrigação da pele e aumentam a produção de calor. A transpiração serve para que o corpo se refresque. Para combater este inconveniente, beba muitos líquidos.
- Alterações no paladar
A mulher pode sentir na boca um gosto metálico, que faz a comida ter um sabor desagradável ou diferente do habitual. As causas são desconhecidas, mas podem estar relacionadas com o aumento da actividade hormonal. Coma todos os alimentos nutritivos que lhe saibam bem.
- Cansaço
A mulher pode sentir um cansaço tão grande que a obrigue a fazer sesta. O cansaço é perfeitamente normal durante a gravidez, sendo provocado pelas exigências do organismo. Por vezes, a fadiga excessiva é resultado de preocupações, falta de sono ou má alimentação. Faça uma alimentação equilibrada.
- Dispepsia
É caracterizada por episódios de diarreia com flatulência e dores abdominais mais ou menos localizadas. Para a evitar, beba dois litros de água foras das refeições e consuma pêras cruas duas a três vezes ao dia.
Evitar as féculas, diminua a ração de pão, suprima os legumes secos e triture os legumes verdes de fibras duras. Mastigue prolongadamente os alimentos
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