Sobre o blog:

“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Maio - mês internacional da Doula

Foi com grande satisfação que li o texto da Moya sobre as Doulas... ela diz tudo o que eu gostava de dizer, mas como sou doula podia parecer "exagero" :)

Grata Moya pela tua participação no blog, que o teu testemunho sirva para ajudar as outras mulheres nas suas escolhas!

O mês da Doula é todos os meses...

Advogo a extrema importância da presença de uma Doula durante a gravidez, parto e pós-parto, não só para o bem-estar da mulher e seu bebé, mas da restante família. Uma grávida tranquila faz uma família feliz. Apesar disso, a nossa sociedade ainda não está suficientemente ciente desta realidade. Quando digo que uma doula "apoia a mãe durante a gravidez", há quem diga logo "mas isso faz a minha família/marido/mãe/irmã/...". Quando digo que uma doula "apoia a mãe e o pai durante o trabalho de parto", há quem diga que "para isso está lá o acompanhante ou o staff do hospital". Quando digo que uma doula "informa, baseando-se geralmente nas mais recentes evidências científicas", há quem diga "isso estudos há muitos".

Afinal, já se gasta tanto dinheiro em exames, e análises, e consultas, e testes...; e não há tempo para nada no meio do ciclo "trabalho-casa-trabalho", quanto mais para algo que não definem como importante: entrar em contacto com o seu bebé dentro do ventre, e com o seu corpo, de forma a experienciar uma gravidez e parto fisiológicos e naturais. (A maior parte das mulheres que conheço acha que não têm capacidade de parir, e aí está o seu primeiro e maior engano, que despoleta tudo o resto).

Conheço várias doulas (e parteiras, que por vezes também assumem esse papel). Conheço o seu acompanhamento, a sua dedicação e o seu carinho.
Poucas profissões há que necessitem de mais entrega. Afinal, quem no seu juízo perfeito se disponibiliza 24h por dia, 7 dias por semana por email/telefone/telemóvel e presencialmente a estar com cada grávida que acompanha?! A responder às suas questões, anseios, divagações, mitos e carências? A dar-lhe a força emocional (ou a ajudá-las a encontrá-la dentro de si) que todo o resto do mundo (pais, amigos, médicos, enfermeiras, colegas e às vezes até o marido) afirma peremptoriamente que elas "não têm", para gestarem, para parirem, para amamentarem?!

Descobri entretanto que uma minha prima está de esperanças. Está longe e não parece haver muitas doulas para aqueles lados. Logo aí vejo que fui uma privilegiada. Conhecemos a nossa doula ainda antes de engravidarmos. Para nós, o seu apoio foi fundamental, e é por isso que eu muitas vezes parece que tenho comissão (mas não tenho!) quando insisto para que os casais contactem pelo menos uma doula, 2 ou 3 vezes na gravidez! Não reconheço nenhuma outra profissão ou relação que possa objectivamente substituir o papel da doula. Sim, pode haver pessoas mais sensíveis para a humanização do nascimento e para o respeito pela grávida, seu acompanhante e seu bebé, mas raramente reunem todas as particularidades para as quais a doula teve formação, experiência e sensibilidade. Uma dessas particularidades que lhes é inerente (e, na minha opinião, a mais difícil de encontrar noutras pessoas) é que uma doula não julga, não força, não critica. Informa e respeita as decisões do casal.

Fico triste porque, com as evidências científicas que já existem hoje de que, p.e., uma doula favorece o bom decorrer do parto ou a redução de necessidade de intervenções e analgesias, as pessoas continuam a achar que "não precisam" de uma doula. Conheço vários casos de pessoas que não tiveram o desfecho desejado para os seus partos. Acharam que não precisavam de doula, que não precisavam de plano de parto, que lhes bastava "confiar" na equipa que os atendia. Não digo que o desfecho fosse outro caso tivessem tido uma doula, mas as justificações que lhes foram dadas para inúmeras intervenções descritas não eram fortes o suficiente para tal, segundo as normas correntes, p.e. da OMS.

Por isso fico perplexa quando vejo artigos tipo o "Na melhor companhia" da revista Pais e Filhos deste mês: falam do acompanhamento da grávida, mas sem referir as doulas?!
No mês de Maio ou em qualquer mês: imperdoável...

moya
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http://moyinha.blogspot.com/

3 comentários:

Sofia Batalha disse...

mto bom :) mmo isso.. tdas as grávidas deviam de ter uma doula

Daisy disse...

Olá Catarina, Olá Moya, Olá a todos:
Sou seguidora, adoro ler a informação aqui partilhada, concordo a 100% com quase tudo o que é escrito, vibro de alegria e de orgulho com as actividades que ocorrem, choro e rio de felicidade (e de tristeza, quando é o caso) com os vídeos e fotografias, com as experiências pessoais que aqui são partilhadas.
Este é o meu 1º comentário (e não será o único) num blogue que muita informação me traz, um blogue que me conduz e me orienta nas minhas escolhas, mas que acima de tudo me ajuda a descobrir como mulher, que me ajuda no processo de auto-conhecimento.
Não sou mãe, nem doula, nem a minha profissão está relacionada com esta área, mas sou mulher e como tal, na descoberta da minha natureza feminina, encontrei um grupo de mulheres dispostas a ajudarem outras mulheres a descobrirem-se a elas próprias. O vosso método é através da maternidade, e vosso trabalho é muito mais abrangente do que possam imaginar.
Por tudo isso, o meu Muito Obrigado.
E na sequência do que escrevi, quero deixar um comentário ao texto da Moya (obrigada Catarina por partilhar, dado que o blogue é privado e não tenho acesso): é cansativo lutar contra uma mentalidade tão fechada. É ainda mais difícil lutar contra a ignorância e desconhecimento profundos que convém a muitos outros. Muitas vezes me perguntei como e quando foi que as mulheres perderam o seu próprio poder, deixaram de acreditar nelas próprias e nas suas intrínsecas capacidades. Quando a Moya descreve o papel de uma doula, que para mim é inquestionável e sem qualquer necessidade de justificação, eu vejo a fraqueza do mundo feminino, vejo as mulheres a não se reconhecerem a elas próprias, como seres diferentes, como seres com capacidades que o mundo masculino não sabe compreender e (à excepção de uns poucos) respeitar. Começa logo pela nosso biologia: a todos os níveis. Emoções são parte da Natureza feminina, emoções que somente as mulheres compreendem, emoções reprimidas num mundo altamente masculinizado. Estas emoções não compreendidas, não aceites, escondidas de outrem e de nós próprias causam grandes estragos e são a causa de muitos dos medos vividos na maternidade. A componente emocional da maternidade é maior do que a componente física. Leboyer foi o 1º médico obstetra a reconhecer isto e a mudar imediatamente o seu comportamento. E nós mulheres, estamos a passar por cima disto tudo, deixando o nosso bem-estar nas mãos de pessoas formadas pela técnica e não pela compreensão ou respeito. Eles é que sabem, nós não. Nós nem carregamos a herança genética de saber parir. A compreensão, o não julgamento, e o carinho de uma mulher nesta hora são fundamentais para a realização da mãe. Sim, porque tudo na vida se trata de realização/crescimento pessoal.
A doula não é ninguém estranho que entra de repente nas nossas vidas, é a luz, é a aquela pessoa que acredita e confia, do mais profundo do seu ser, que nós vamos conseguir! é alguém que nos lembra em todos os momentos que a maternidade é um Estado pleno de Alegria, de Graça Divina, e não um estado de medo de que algo possa correr mal. Medo esse lembrado em cada consulta de ginecologia, ou não é assim, na maior parte das vezes?
E, como todas nós sabemos, não há maior apoio do que sentirmos que nos respeitam, nos compreendem, nos aceitam, tal como nós somos. Volto a escrever: tal como nós somos! sem qualquer máscara (Portugal é um país de aparências, em todas as suas formas)!
Quantas de nós temos o privilégio de ter alguém assim nas nossas vidas?
Concluindo, Doulas :) nada de desistir de fazer ouvir a vossa voz! Os testemunhos ajudam muitíssimo, passar a palavra certa e divulgar também. A vossa ajuda é fundamental e tem que continuar.
Acredito que, seja nos casos felizes ou menos felizes (com desfechos não esperados, porque até esses têm uma razão de ser, nada nas nossas vidas acontece por acaso), o crescimento e amadurecimento da mulher ocorra, a reflexão se dê, o auto-(re)conhecimento aconteça, e possamos melhorar e muito o mundo em que vivemos.
Um abraço,
Susana M.

moya disse...

Olá Daisy :)
Obrigada Cat, por partilhares o que penso :P
Se alguém quiser ter acesso ao meu blog (neste momento está privado), pode mandar-me uma mensagem (através do blogger) que eu dou autorização para aceder.
beijos,m.