O Hospital de São João, no Porto, disponibiliza às grávidas, a partir de sexta-feira, um bloco para partos naturais onde algumas «velhas práticas» foram abolidas e se dá tempo ao tempo para nascer
Os partos induzidos, as anestesias, as tricotomias (rapagem dos pêlos púbicos) e os clisteres estão excluídos do novo bloco, pensado para as grávidas sem pressa, que ali vão poder recorrer à hidroterapia, à música e a exercícios de relaxamento para darem à luz tranquilamente.
Na nova estrutura, a grávida pode escolher a posição que lhe é mais conveniente para dar à luz e praticar exercícios com a bola e a corda de parto.
«A bola permite que a mulher se sente sobre ela e oscile, relaxando a zona pélvica, e a corda, suspensa num ponto alto da sala de partos, pode ser usada para fazer força», explicou Diogo Ayres de Campos, médico responsável pelo bloco de partos.
A episiotomia (corte do períneo, uma área muscular localizada entre a vagina e o ânus, para facilitar a expulsão do bebé) «só será realizada nos casos em que for realmente necessária», sublinhou ainda Diogo Campos, que se congratulou por a taxa desta intervenção no Hospital «ser actualmente de 54 por cento, quando era de 87 por cento há três anos».
«O soro, que costuma ser colocado à grávida assim que esta entra no hospital, também deixa de ser rotina, e a futura mãe vai poder circular num ambiente familiar, sem a presença de estranhos, além de ter à sua disposição chuveiro e banheira com hidromassagem», contou o clínico do Hospital de São João.
Mas apesar de a água ser um recurso para o relaxamento e o amenizar das dores da grávida, o médico do São João exclui a possibilidade de os partos ocorrerem no meio aquático.
«Como são conhecidos casos de complicações em bebés que nasceram neste meio, só faremos partos na água quando houver indicações de que são pelo menos tão seguros como os realizados em ambiente normal», declarou Diogo Ayres de Campos, acrescentando que «o parto na água não é um parto natural».
«Parir na água não é um instinto ou uma tendência natural da mulher», sublinhou o responsável, segundo o qual «o trabalho de parto na água é pacífico, a expulsão do bebé é que é controversa».
A realização do parto fora do ambiente hospitalar também é encarada com renitência por Diogo Campos, segundo quem «em Portugal não existe uma estrutura montada para apoiar esse tipo de nascimento, ao contrário do que sucede em países como a Holanda», onde apenas as gravidezes de risco têm acompanhamento hospitalar.
Apesar de considerar que o país «não está preparado nem tem tradição de partos em casa», o médico reconhece que os enfermeiros obstetras (vulgo parteiros) «podem orientar os partos de baixo risco», devendo «dispor de mais autonomia», um aspecto que «está bem estipulado na lei europeia mas pouco claro na legislação nacional».
Diogo Ayres de Campos revelou-se ainda favorável à criação de casas ou centros de parto, uma vez que Portugal ainda não dispõe de nenhuma estrutura deste tipo.
Para o médico, os centros de parto representam «o equilíbrio ideal entre a casa e o hospital» e, «se são uma solução em muitos países europeus, não há razão para não resultarem em Portugal».
Lusa / SOL
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=78066
Sobre o blog:
“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones
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