Sobre o blog:

“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

sexta-feira, 8 de março de 2013

Relato de Parto


A Violência Obstétrica existe! No Dia Internacional Da Mulher deixo-vos o relato de Parto da Bárbara, na esperança que o panorama da obstetrícia em Portugal mude, mas principalmente, que as mulheres portuguesas ganhem coragem para assumir que são as donas do seu parto!
Grata Bárbara pela partilha!

"Dei entrada no hospital no dia 9 de Novembro de 2011, por volta das 15h00.

Por incrível que pareça, dirigi-me ao hospital, não por achar que estivesse em trabalho de parto, mas porque tinha passado o dia anterior e toda a madrugada, com falta de ar e continuava. Também passei a madrugada inteira com contracções mais ou menos regulares, mas pensei que seriam normais, e apenas de preparação, visto o parto só estar previsto para dia 5 de Dezembro (embora a data dos médicos nunca me tenha convencido. Segundo a data da menstruação, o bebé estava previsto para dia 23 de Novembro, ou seja, duas semanas antes do que os médicos calcularam pela ecografia). Há muito tempo que não tinha ataques de asma, e nesse dia foram mesmo muito sérios. Tentei de tudo, mas tive de usar a bomba de emergência.



Se já me sentia mal por usar isso antes de estar grávida (embora muito raramente), agora com o bebé, senti-me péssima, preocupada por estar a prejudicá-lo.
Puseram-me uma pulseira amarela e lá fui eu para a obstetrícia. Mandaram-me despir e deitar, e lá chegou o primeiro toque do dia. O médico disse logo “Você está em trabalho de parto, já com 4 dedos de dilatação”. Logo seguido de um “Confirma, colega?”, colega essa que, sem mais nem menos, me fez outro toque. “Confirmo”. O meu desespero foi gigante, só queria gritar e fugir dali! Toda a minha gravidez andei a planear um parto em casa, com parteira, que me acompanhava há alguns meses, já com a banheira montada em casa, muitos documentários, livros, muitas conversas. Segundo a data da ecografia, eu estava com 36 semanas de gravidez, e a minha parteira já me tinha dito várias vezes que só me faria o parto com 37 semanas. O médico e as colegas (outra médica e uma enfermeira) disseram-me para pedir ao meu companheiro para ir buscar as minhas coisas a casa, pois tinha de lá ficar. Eu disse-lhes “Mas eu quero ter o meu filho em casa! Não quero ficar aqui”. Olharam-me todos como se tivesse um desequilíbrio mental e o médico disse “então decida-se rápido, porque precisamos de saber se vai ou fica”. A minha cabeça andava à roda. Mistura de medos, informações que adquirira durante a gravidez. “Com 4 dedos, já tenho de ficar internada com esta urgência?”. Saí de lá e fui ter com o meu namorado que esperava por mim sem imaginar o que se estava a passar.  Fui a chorar, e mal consegui falar “amor, estou em trabalho de parto e querem que eu fique aqui “. E ele disse “Vamos embora!”. Mas eu recordei-lhe que a parteira não fazia o parto com 36 semanas. Depois de muitos problemas (pois nem eu nem o meu namorado tínhamos saldo no telemóvel, e o telefone do hospital não funcionava) conseguimos falar com a parteira, que me repetiu o que temia “Bárbara, eu não posso assumir essa responsabilidade”. Tudo girava na minha cabeça, eu estava em pânico! Só de imaginar um parto no hospital, toda eu tremia! E tinha de enfrentar! Pensei em ir para casa e ter o bebé sozinha, mas o medo não me permitia, eu não tinha essa confiança. Lá me dirigi à enfermeira, que deu uma lista ao meu namorado de coisas para trazer. Fomos novamente à sala do médico, e já lá estava outro (o que depois me fez o parto). E a enfermeira disse “Pronto, ela decidiu ter o bebé aqui”. Resposta do médico: “Ganhou juízo!” E eu: “Não, é porque sou mesmo obrigada!”. Depois tive de responder a várias questões que me colocaram sobre o parto. Eu disse que não queria ser medicada, não queria estar a soro, não queria que o bebé recebesse qualquer vacina, não queria que me fizessem uma episotomia, a não ser que fosse mesmo necessário, etc.

Lá me encaminharam para a sala de parto. Eu ia aterrorizada. A enfermeira ia-me tentando acalmar, dizendo que o parto no hospital não era aquilo que eu pensava. Lá entrei, e mandaram-me tirar logo a roupa e vestir uma bata. Passado algum tempo entrou uma nova enfermeira, que me colocou questões sobre o meu regime alimentar (sou vegana), sobre os meus planos de parto em casa, sobre os meus desejos, medos, etc. Foi simpática, disse para eu relaxar, e que o parto no hospital não era mau como eu pensava, embora, claro, fosse bem diferente daquilo que eu planeara para casa. Disse que podia andar à vontade pelos corredores, que se quisesse podia tomar banhos de chuveiro, que não tinha de ser monitorizada o tempo todo, que podia beber, que não me ia colocar soro. Pediu-me apenas para canalizar uma veia, sem soro, para qualquer emergência que pudesse surgir. Permiti. Passado um bocado entrou uma senhora que disse que era a parteira que me ia auxiliar durante o parto. Conversamos durante algum tempo, disse-me que raramente fazia episiotomias, só em último caso e que me permitiria ficar sentada na marquesa para ter o bebé, e que não precisava de pôr as pernas nos apoios. Foi muito simpática e mostrou bastante abertura e paciência. Pediu-me para eu me deitar na marquesa, mas eu disse-lhe que não queria estar deitada, e que deitada as dores aumentavam muito (era realmente muito pior). Ela disse para me deitar só um pouco para colocar as cintas, e que depois me podia sentar. E assim foi. E pediu-me para fazer novo toque. Eu não mostrei vontade alguma, e ela insistiu, dizendo que era necessário para saber a evolução do trabalho de parto. E pronto, terceiro toque. Tinham passado cerca de 3 horas desde que chegara. Ela disse que tinha progredido para 5 dedos. O meu namorado e a minha mãe, que tinham chegado há algum tempo, iam-me fazendo companhia, um de cada vez. As minhas contracções eram regulares, cada vez mais difíceis de suportar, mas eu lá me ia aguentando. Fui tomar um banho com ajuda do meu namorado, caminhava sempre que me apetecia, mas a maior parte do tempo optava por estar sentada, e era assim que me sentia mais confortável. Várias vezes fui à casa de banho. Embora a parteira me tenha dito que a avisasse caso sentisse vontade de fazer cocó, porque tinha de fazer toque para ver se não seria o bebé a querer sair, eu fiei-me no meu instinto e fui à casa de banho várias vezes aliviar o intestino. Senti que o meu corpo estava a limpar para o trabalho de parto. Meia hora mais tarde a enfermeira pediu-me para fazer novo toque e eu disse que não queria. Ela insistiu várias vezes, aparecendo no quarto, dizendo que não me podia ajudar a calcular o tempo que ainda ia demorar, sem eu a deixar fazer o toque. E eu lá permiti. Foi horrível!!!!!! Sempre me disseram que quando se faz um toque, tem de ser no intervalo entre contracções. Quando ela me estava a tocar, disse-lhe que ia começar uma contracção e ela CONTINUOU. Eu gritei desesperada que ela parasse, e ela continuava! Saiu do quarto sem me dizer o que quer que fosse. Passadas cerca de duas horas, a parteira veio novamente ao quarto e pediu-me para fazer novo toque. Eu disse que não queria, e contei-lhe o que aconteceu e ela disse que ela não me ia magoar. Permiti e ela disse que estava com 6 dedos. Perguntei-lhe quanto tempo iria demorar ainda, e ela disse que quase de certeza seria ela a realizar-me o parto. O turno dela terminava às 23h. A minha tarde e início da noite foi passada entre o quarto, com namorado e mãe, os corredores, a casa de banho, muitos medos, nervosismo. Mais tarde ela veio falar comigo. Disse que estava a progredir, mas que não tão rápido quanto ela supunha. Disse que até era bom para mim, porque embora progredisse lentamente, ia tolerando melhor as dores, e que com certeza, no momento da expulsão ia ser tudo muito rápido e que o pior eram aquelas horas de contracções. Fiquei muito triste. Estava já à vontade com ela, com alguma tranquilidade, e agora o turno ia mudar. Passado um bocado, veio apresentar-se a nova parteira, muito mais nova. Colocou-me diversas questões, voltou a monitorizar-me. Passado um pouco, a máquina começou a apitar (eu tinha mudado de posição, tinha tentado inclinar-me um pouco para trás). Ela disse que o bebé estava com os batimentos muito acelerados. Eu expliquei-lhe que tinha mudado de posição, e que as batidas estabilizaram mal me coloquei como sempre estivera. Ela mostrou cara de poucos amigos e disse que se voltasse a acontecer, eu tinha que me deitar como todas as mães e ponto final. A minha mãe, que estava comigo, teve de se despedir. Eles não permitiam estarem duas pessoas. Despedi-me dela por volta da meia-noite. Logo a seguir entrou o médico, a calçar as luvas, com a parteira, outra médica (que reconheci das consultas) e uma auxiliar. Eu disse que não queria fazer mais toques e ele disse que tinha de ver, que o bebé podia estar em risco, bla bla bla. Lá permiti, mais uma vez (é incrível como tudo que aprendemos durante meses, se perde e abandona quando o medo nos invade). Magoou-me imenso. Disse-me que tinha 7 dedos e que estava a evoluir tudo muito lentamente. Saíram e entraram passados minutos, e ele informou-me que tinha de me romper a bolsa. Eu gritei logo que não e o meu namorado também. Ele disse que tinha de ser, porque tinham de ver se havia mecónio no líquido, para avaliar a condição do bebé, e que não tinham a noite toda para esperar pela evolução da dilatação. Eu disse que não novamente, e a outra médica começou a falar, a repetir que era extremamente necessário. Eu disse que não, agarrada ao meu namorado, deitada na marquesa, e o senhor doutor agarrou-me nas pernas, ajudado pela parteira e rompeu a bolsa de águas, comigo aos berros, a chorar, a gritar que não, e com o meu namorado sem perceber bem o que se passava. Romperam, viram a água límpida, e saíram todos como se nada fosse. Fiquei agarrada ao meu namorado aterrorizada, a tentar explicar-lhe o que me tinham feito, e o que com certeza ia começar a acontecer agora. E assim foi, quase de seguida as contracções retomaram multiplicadas por mil. Considero-me tolerante à dor, mas as dores que senti, de repente, não têm descrição possível. Eu berrava com toda a força dos meus pulmões. O meu namorado saiu e passado um bocado entrou a comitiva toda novamente, seguida do meu namorado, e ouvi o médico dizer que já tinha a mostarda a chegar-lhe ao nariz por causa das nossas exigências, avisos, etc. Tanto o médico como a parteira, começaram a dizer uma frase que ouvi dezenas de vezes na hora e meia seguinte, até ao bebé nascer “Vê? Está a sentir essas dores porque quer. Podia estar bem, tranquila, a ver o seu filho nascer, mas está aqui a sofrer como nos tempos antigos, como na selva. Nós queríamos ajudá-la, mas não quis ser ajudada, agora tem de aguentar”. As dores aumentavam cada vez mais e eu gritava, gritava, gritava. Eu gritava que queria morrer, que me matassem, e era realmente isso que desejava. Podem chamar-me fraca, mas só eu sei as dores por que passei. Por mais que digam que as dores de parto são fortes, eu tenho a certeza que as dores que estava a sentir não são as dores “normais” de parto, dum parto que decorre de forma natural. Diziam que fizesse força no rabo, e que me agarrasse às alavancas dos lados como se fossem remos. Eu dizia que me queria sentar, e não me permitiam!!!!!!! Disseram para esquecer o que a outra parteira disse, que as regras eram deles e ponto final. Quando eu me tentava levantar, eles empurravam-me para baixo e forçavam-me a posição. Puxava, puxava e não sentia o bebé ou evolução de algum tipo. Eles iam tocando diversas vezes, dizendo que se estava a aproximar, mas eu não acreditava e realmente naquela hora, o que eu queria era partir, que me desse qualquer coisa no coração e morresse. Pedi que me dessem algo para as dores, disseram que era tarde demais. Injectaram-me qualquer coisa mas não senti nenhum tipo de melhoria. Disseram que ele estava próximo, e que o namorado podia empurrar na barriga para ajudar, mas eu gritei que não, pois quando demonstraram, as dores aumentaram ainda mais! Durante este tempo (da meia noite à 1h25) entraram várias enfermeiras e auxiliares no quarto. Eu, de pernas abertas, aos berros, sentia-me uma aberração num circo, que todos queriam ver. E ver a cara do médico a rir-se para as colegas, que se riam também, aumentava ainda mais o meu desespero. Riam, apontavam, segredavam baixinho. Algum tempo depois o médico disse que me ia fazer uma episiotomia. Eu gritei que não, que conseguia parir sem ser cortada, e ele respondeu “desculpe, mas eu tenho o meu nome a defender. Não vou permitir que haja uma laceração (e referiu um cenário qualquer negro a nível intestinal que não me recordo bem) só porque a menina decidiu que quer um parto sem intervenção”. E começou a injectar-me uma anestesia. Passado um pouco, cortou-me. Revejo-me ali deitada, de pernas abertas, a berrar como nunca vi ninguém berrar, rodeada de caras que se riam, que olhavam com nojo, com o meu namorado sempre a discutir com eles, sangue, medo…
Disseram-me que já se via o menino, que estava quase, e eu lá continuei, desesperada, a achar que eles estavam a mentir, pois eu não sentia nada a descer, só uma dor insuportável. Disseram que na próxima vez ele saía, eu puxei, e vi-os agarrar nele. O meu menino, todo roxinho, com o cordão à volta do pescoço. Tiveram de cortar imediatamente, porque não dava para tirar pelo pescoço, de tão apertado que estava, tentaram aspirá-lo e correram todos para fora da sala com o meu pequenino. Fiquei eu, aliviada pela expulsão, sentindo-me numa dimensão à parte, sem emoções, e o meu namorado, a chorar e a dizer “eu vou processá-los! Eles levaram o meu filho! Aconteceu alguma coisa! E agora? O meu filho” E eu sem lhe conseguir responder. Eu sentia um vazio dentro de mim como nunca senti. Estava mesmo fora deste mundo. O meu namorado estava desesperado, a andar dum lado para o outro, a chorar. Uns minutos depois, entrou o médico e disse que o bebé estava bem e também “Se tivesse tido o bebé em casa, como queriam, ele teria morrido. Tivemos de aspirá-lo, dar-lhe oxigénio e reanimá-lo. Vê?” e voltou-se a sentar à minha frente e começou a apertar a minha barriga com a maior força. Apertava, tocava-me, e eu gritava. Algum tempo depois, saiu a placenta (parece que foi arrancada à força). Entraram novamente as enfermeiras, com o bebé e puseram-no em cima de mim. O médico estava, literalmente, a puxar o cordão com toda a força, enquanto me apertava a barriga com uma força monstruosa (fiquei com a barriga negra). Senti-me pessimamente com aquele ser em cima de mim, num momento que devia ser de amor, de felicidade, e o médico a arrancar algo que deveria sair naturalmente, a sentir dores fortes com o meu bebé em cima. Pedi ao meu namorado que pegasse nele. Sinto-me muito mal por ter vivido assim esse primeiro contacto. Tudo tinha sido imaginado de forma tão diferente…
O médico começou-me a coser, depois de me ter dado anestesia, mas eu senti os pontos… eu só pensava que a tortura nunca mais acabava… o que poderia acontecer-me mais???
Foram lavar a cabecinha do meu bebé (o meu namorado foi também) e depois voltaram e disseram que lhe tentasse dar de mamar. Ele pegava um pouco no mamilo, mas ainda não sugava muito bem, e largava. A enfermeira saiu apressadamente da sala (5 minutos depois) e regressou dizendo “Olhe que eu fui falar com a pediatra e ela disse que se daqui a 10minutos o bebé não mamar direito, temos de lhe dar fórmula”. E eu “O quê? Está-me a dizer que por ele ainda não mamar bem nos primeiros 5/10 minutos de tentativas, já lhe quer dar leite de vaca??? Nem pensar! Ele vai conseguir mamar”. E pouco depois começou a mamar. Ela ficou a espreitar e ainda disse “Não sei se ele está mesmo a mamar”, mas depois lá se convenceu. Absurdo!!! Só de pensar na quantidade de bebés que começam logo a tomar leite de vaca. E entendo cada vez mais por que tantas mulheres dizem que ficaram logo sem leite… Pouco depois mandaram-me trocar de marquesa para me levar para outro quarto. Fiquei muito aliviada por sair daquele quarto horrível onde sofri tanto. Só queria estar no meu canto, olhar para o meu bebé e sentir paz, finalmente. O meu namorado teve de sair, porque não permitiam que ele ficasse lá.
O parto foi à 1h25 do dia 10 de Novembro, e saí do hospital no dia 12, às 15h30. Nesses dois dias que fiquei no hospital, fui bem tratada pelas enfermeiras e auxiliares. Quando tinha de falar com algum médico, ouvia comentários “Esta é que é a tal” e coisas do género (surpreende-me imenso que as pessoas achem que se falarem baixo, não se consegue ouvir). Quando disse que não queria vacinas, lá me mandaram falar com o pediatra e assinar um papel. Quando disse que não queria dar banho ao bebé no hospital, escreveram logo isso no boletim do pequenino, como se tivesse deixado de fazer algo vital para a saúde dele. E no último dia, quando fui ao médico para me dar alta, fui tocada por uma médica (que devia ter menos 10 anos que eu), que conseguiu ser mais bruta que todos os outros que me tocaram na minha penosa estadia no hospital. Começou a arrancar-me uns coágulos com as mãos enquanto me apertava a barriga com força, e eu gritava e tentava tirar-lhe as mãos. Virou-me uma cara e disse “por favor, não me toque.” E eu disse que me estava a magoar imenso e ela disse que eu era muito sensível… Foi horrível. Depois foi ao lado do médico e disse baixinho “esta paciente tem coágulos de placenta”. E mandaram-me fazer uma ecografia. FELIZMENTE já não tinha mais nenhum. Quando me fui vestir à casa de banho, banhada em lágrimas, ouvi-a dizer “Esta é que é a tal vegetariana”. E mal saí o médico disse “Então, o que vai fazer em relação à contracepção?” E eu fiz-me de burra para evitar novos conflitos e disse “não sei, o que sugere?” E ele deu-me duas caixas de pílulas e eu disse “Tudo bem”. Ela sabia que eu recusava qualquer medicação e estava à espera que fizesse o mesmo agora, mas eu só queria sair daquele hospital!!!! Estava desesperada! Só chorava, estava em pânico. Os médicos olhavam-me todos com má cara, e eu já temia que me tentassem tirar o meu bebé e me acusassem de negligência por ter rejeitado vacinas, medicações, banhos. Quando o meu namorado chegou, queria sair a correr, mas tivemos de esperar que a enfermeira nos desses os papeis. Por fim, chegou e fomos embora. Chorei o caminho todo entre o hospital e a casa. Sentia-me violada da forma mais profunda possível. Não há palavras que descrevam correctamente o inferno que vivi principalmente dentro de mim. Tanta dor física, tanta dor emocional. Fui abusada nos mais diversos níveis. Agarraram-me, magoaram-me, abriram-me, coseram-me, arrancaram as minhas entranhas, acusaram-me de ser má mãe, fizeram-me desejar a morte e o pior de tudo, fizeram-me acreditar, que a qualquer momento me iam tirar o mais importante da minha vida: o meu filho.
Hoje, um mês depois, choro e revejo tudo com grande dor. E pior do que toda a dor física que vivi, é este medo de que o meu filho não se conecte a mim como poderia num parto calmo, natural… Quando ele mama sem me olhar nos olhos, quando ele afasta a mãozinha dele quando lhe toco, invade-me o terror de acreditar que ele não me vai amar. Peço-te perdão por teres nascido num ambiente tão frio, tão atroz, mas a mamã não conseguiu fazer melhor… Desculpa ter gritado que queria morrer quando ainda por mim descias… Como é que a coisa mais preciosa da minha vida nasceu do momento mais terrível que poderia viver? Perdoa-me, meu filho… A mamã queria que tudo tivesse sido diferente, mas não conseguiu… Olho para ti neste momento, e só espero que, juntos, consigamos ver para além do sofrimento, e que transformemos este tormento, no maior amor do mundo. Amo-te, meu filho… "

Bárbara Gizela

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