Sobre o blog:

“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Entrevista com a parteira Ina May Gaskin


"Assisti a um casal, quando ainda estávamos na caravana, que era brilhante.
Sabe o que faziam para aliviar a dor das contrações? Beijavam-se. E isso a
fazia sentir bem relaxada, como se pode imaginar. Pensei "que criativo! Como não pensei nisso antes?" E eles pareciam bem, como se não estivessem preocupados com nada, que é exatamente o que se deseja. Dois anos depois, estávamos aqui com uma mulher que já havia tido 2 bebês anteriormente e que estava muito amedrontada. Era uma mulher bem pequena, assim como o marido. Ambos pareciam secos, frágeis, apavorados, com pupilas muito pequenas, aterrorizados. Pensei "este bebê
nascerá de qualquer forma, isso não está impedindo o trabalho de parto, mas
ela vai lacerar", porque ela estava rígida de pavor.

Aí lembrei do outro casal e disse (esperei até que ela não estivesse tendo
uma contração): "Linda, eu tive uma idéia. Por que você não tenta beijar o
Richard durante a próxima contração? Vamos ver o que acontece." A esta
altura, ela provavelmente teria feito qualquer coisa que eu sugerisse, menos
entrar no carro e ir ao hospital, porque seria uma viagem bem desconfortável
na estrada de terra e ninguém queria isso.

Então ela fechou os olhos, colocou os lábios bem juntos, ele fez o mesmo e
simplesmente encostaram os lábios um no outro. Pensei "minha nossa, eles não
sabem como beijar". Mas, claro, a regra é não criticar uma mulher em
trabalho de parto, porque é a pior coisa que se pode fazer. Então, esperei
até acabar a contração, ela abrir os olhos e estar pronta para receber mais
informação e sugeri que tentassem de novo, desta vez, "Linda, com a boca
aberta". Não me importava o que Richard faria, só queria que ela abrisse a
boca porque já tinha reparado que quando a mulher dá a luz de boca aberta,
com a mandíbula relaxada, a probabilidade de laceração no períneo é muito
menor e a maioria das mulheres não tinha laceração, então eu nem tinha
aprendido a dar pontos ainda.

Ela fez isso e adivinhe: o bebê estava no períneo, um bebê maior do que os
outros que ela já tinha tido e o períneo estava intacto. Vinte e cinco anos
depois ela escreveu uma estória para mim e disse que o casamento havia tido
problemas, a vida sexual era morna, embora houvesse amor entre eles e ela
disse que aquele parto consertou tudo no casamento por causa do beijo. Ela
diz que agora recomenda às filhas, que estão tendo bebês "não esqueçam
de beijar". Se estão no hospital, as pessoas vão sentir-se envergonhadas
fazendo isso, mas eu digo que é mágico porque se um casal se beija no
hospital, pode até aborrecer algumas enfermeiras, mas o que acontece é que
as chatas vão embora, incapazes de suportar e aparecem as simpáticas. Se o
casal está junto há tempo suficiente para ter um filho, tenho certeza de que
a lei permite o beijo. Pode deixar as pessoas desconfortáveis, mas quem se
importa? Se ajuda a parir seu filho e salvar pontos no períneo, pode ser uma
coisa muito boa."

Entrevista na íntegra
http://prisrezendedoula.blogspot.com/2010/09/entrevista-com-parteira-ina-may-gaskin.html

1 comentário:

moya disse...

Muito Bom!
Grande Ina-May!
Recomendo a todas as mulheres a leitura do seu livro Spiritual Midwifery.
É uma grande lição de humildade e de saber confiar nos nossos instintos!