Sobre o blog:

“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

terça-feira, 8 de junho de 2010

Porque desvalorizamos tanto o trauma do parto?

O transtorno por stress pós-traumático ou TEPT, é um transtorno psicológico classificado dentro do grupo dos transtornos de ansiedade, que ocorrem como consequência da exposição a um evento traumático.

Muita mulheres contam-me que depois de um parto traumático ouvem com muita frequência "mas... é apenas o nascimento" ou "pelo menos tens o teu bebé nos braços " e são classificadas como "sensíveis".

De acordo com o DSM-IV, os critérios necessários para fazer o diagnóstico são:

A existência de um evento traumático claramente reconhecível como um atentado à integridade física, própria ou alheia, que tenha sido experimentado directa ou indirectamente pela pessoa afectada e que lhe provoque temor, angústia ou horror.

A reexperimentação repetida do evento, ou seja:
Pensamentos recorrentes e intrusivos (flashback);
Pesadelos;
Comportamento como se o evento ocorresse novamente.

A insensibilidade afectiva, identificável por:
Diminuição expressiva no interesse em realizar actividades comuns ou significativas, especialmente se tem alguma relação com o evento traumático.
Sensação de alheamento em relação às outras pessoas.
Restrição afectiva. Incapacidade de amar.
Hiperatividade.
Distúrbios do sono.
Dificuldade para concentrar-se.
Irritabilidade.

Entre os factores que contribuem para o desenvolvimento do TEPT, estão:

A extensão em que o evento traumático afecta a vida íntima e pessoal do afectado.
A duração do evento.
O grau de vulnerabilidade ante a maldade humana (é mais provável que o TEPT ocorra em eventos provocados pela mão do homem do que por eventos naturais).


Na nossa sociedade, é muito simples dizer a uma mulher traumatizada pelo seu parto, "Pelo menos tens um bebé saudável.", E confronta-la com, "Eu entendo que o nascimento não foi como tinhas planeado, mas tudo está bem quando acaba bem! ".
A mãe traumatizada tem que aprender a cuidar de uma criança, lidar com a privação do sono, enfrentar uma montanha de roupa para lavar e passar, cozinhar e limpar a casa. Bem-vinda à maternidade!

Infelizmente não valorizamos o trauma do parto....


Assim, e isto é realmente importante ( mesmo que tudo parece completamente bem para quem está de fora ) que se uma mulher sente que ela ou seu bebé podem sofrer danos, se uma mulher sente medo e desamparo em trabalho de parto ... mesmo se os procedimentos são rotina para a equipa médica, esta mãe pode sofrer de stress pós traumático, independentemente dela e do seu bebé saírem do hospital vivos e fisicamente saudáveis...


A maioria das pessoas espera que o parto seja doloroso, horrível, insuportável, fora de controle, e desagradável... Isso é que é vemos nos filmes e programas de TV, e muitas vezes nas histórias passadas através de geração em geração. ... É um mito.... É verdade que, infelizmente, a maioria das mulheres na nossa sociedade tiveram um parto ( e um nascimento! ) traumático... MAS É UM MITO QUE O PARTO NÃO POSSA SER UM PRAZER!!!

O parto pode ser bom! Pode ser uma coisa difícil de ouvir, principalmente para uma mulher traumatizada pelo seu parto, mas isso explica uma das razões por que dói tanto emocionalmente quando o parto é traumático ... porque não era para ser assim. A natureza não pretendem que seja dessa maneira. Mas porque a maioria dos nascimentos na nossa cultura são assim, é muito difícil para a maioria das mulheres admitirem que o seu parto pode ter um impacto sobre as suas vidas.

Imagine que foi vitima de um trauma como.... um sequestro ou uma queda de um avião e sobreviveu.... a sua família e amigos não reconhecem que a experiência foi traumática...... Imagine poucos dias depois as pessoas em seu redor a dizer "Ainda estás a pensar sobre isso? Só tens é que seguir em frente! Estás bem, não morreste... então qual é o problema? "
E, entretanto, está a lutar com flashbacks, ansiedade e necessidade de falar sobre o que aconteceu, para tentar que lhe faça algum sentido ... mas ninguém consegue reconhecer sua situação....

A experiência de trauma após o parto pode ser intensamente isolada se passa despercebida. Portanto, cabe a nós reeducar-nos e aqueles que nos rodeiam, lembrando a todos que SIM um parto pode ser traumático quando não é vivido e sentido como a mãe idealizou!

A verdade sobre o parto, traumático ou não, é esta: o impacto do parto tem um efeito cascata sobre toda a vida de uma mulher. Se foi uma experiência positiva, irradia-se para o exterior, sobre TUDO o que acontece após o parto. Mas se foi uma experiência negativa, então podemos falar no efeito dominó - a mulher é derrubada a cada desafio, o impacto do nascimento espalha-se sobre todos os aspectos da sua vida... e este simples reconhecimento pode ser o início de uma jornada de cura para uma mulher traumatizada pelo parto, e assim conseguir abraçar a maternidade, como ela sempre desejou!

6 comentários:

Sofia Batalha disse...

mto bom cat :D concordo a 110%

Anónimo disse...

Quem diria Catarina que apesar de saber tudo isto ainda fez parte de um grupo com o título "Não gramamos a Adelaide de Sousa". Ou será que os VIP não podem ter partos traumáticos? Ou melhor, será que o parto em casa não pode ser traumático? Pode sim, e muito!

moya disse...

Obrigada Cat, por reflectires sobre este assunto. Realmente é muito bonito quando tudo corre bem (o que vemos através de vídeos harmoniosos que circulam online) mas hoje em dia há muito mais histórias de desconforto, de medo, de horror e desfechos que à-partida, não eram o que a puérpera teria imaginado. Muitos deles são diagnosticados como DPP e outros nem isso, mas a maioria das mulheres sente-se culpada por ter esses sentimentos quando "tudo acabou bem".
Acho que devia haver mais consciencialização sobre este assunto por parte da sociedade, e mais apoio profissional devia ser dado às mamãs que não tiveram a experiência com que tinham sonhado, para que exteriorizem essa frustração e angústia de uma forma positiva que lhes permita continuar a sua vida.

Patricia S disse...

Tendo um parto em casa que correu bem pois a bebé nasceu bem apesar de não vir no início na posição "ideal" e apesar de não ter vontade de pegar na maminha nas 48h a seguir (resolvido com o apoio de uma técnica de aleitamento materno), tive que lidar com as minhas expectativas e ideais. Tive que abraçar a experiência dizendo para mim mesma que tudo correu de forma excepcional e perfeita pois, perante os vídeos que vi, o que idealizei na minha mente e os conceitos que tinha, parecia que podia ter sido melhor...
Este tipo de questões não estava a contar pois consegui evitar o mais importante: os procedimentos pós-parto que iriam infligir à nossa bebé no hospital.
Pegando neste ponto, pegando na dificuldade que foi posicioná-la com sucesso (parabéns ao parteiro e a mim e à bebé), somar estes pontos e outros para me sentir a 200% comigo própria.
Os elogios vieram todos de fora mas o elogio mais importante tive que o conquistar: o meu.

Unknown disse...

Caro Anónimo tenho pena de não se identificar porque não vai ser aqui que vou falar sobre o parto da Adelaide Sousa nem sobre parto algum, nunca falei no blog sobre o assunto e não o vou fazez. Só mais uma coisa, esse grupo de que fala não existe.

madrid disse...

Fói assim precissamente como eu descreví a minha experiência posparto, esse ano em branco do qual tive que saír sozinha pois ninguém perto de mim soube ver o que tinha, ninguém me aconselhóu a ir a um psicólogo e provalvelmente esse psicólogo teria confundido o meu stress postraumático com uma depresao posparto provocada pelas mudanças hormonáis... vá lá que saí do buraco e vá lá que tive a força para voltar a engravidar e desta vez sim têr o parto humanizado e o nascimento respeitado que nos negaram na priméira vez... Graças a istoposso dizer que renascí como a ave Phoenix: sim, o parto dói mas uma coisa é a dor perfeitamente soportável pois as mulheres estamos preparadas paraisso e outra muito diferente o sofrimento físisco e psicológico provocado pelos maus tratos dos que somos vítimas mulheres e bebés em muitos hospitáis, e tudo isto dentro da Léi.