Sobre o blog:

“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A historia do parto do Miguel


Lembram-se do Miguel ?


Já esta tão grande!!!

A mãe respondeu ao meu desafio e escreveu sobre o seu parto. Eu tenho muito pouco a acrescentar, foi um parto maravilhoso como a mãe o descreve, assistir á transformação de um casal, ao seu "empoderamento", deixarem de ser simples filhos e passarem a pais é ... mágico.
Pensam que somos nós, doulas e parteiras que "fazemos" estes partos lindíssimos, mas não, quem faz o parto é a mãe e o bebé, sempre! Temos de perceber que é preciso muito pouco para uma mulher parir, mas é fundamental deixa-la em liberdade! O PARTO É DELAS! A mãe é a actriz principal de um dos momentos mais fantásticos, lindos, maravilhosos,....., da sua vida! A nos doulas compete-nos apenas zelar para que o cenário esteja tal e qual como a mãe deseja, para que ela possa brilhar, com a segurança dada pela parteira. Uma mulher que consegue ter o privilegio de parir como deseja é uma MULHER mais forte e realizada!


O Parto do Miguel - pela mãe

Toda a minha vida recusei ouvir até ao fim as histórias de partos que se revelavam arrepiantes e sempre pensei que, apesar de querer muito ter filhos um dia, talvez não conseguisse sobreviver à parte dos ferros, das ventosas, da epidural (uma agulha na espinha, arrghhh!), das enfermeiras brutas, enfim… Lá no fundo, como amante da natureza que sou (e das coisas naturais), sonhava que o meu parto havia de ser muito meu, qual Juma da novela ‘Pantanal’ a parir à beira do Amazonas e, mais tarde, depois de ouvir dizer que na França se paria na água, imaginava-me a ter o meu bebé dentro de uma enorme piscina de natação – ‘com sorte, quando chegar a minha vez, já se faz disto em Portugal também’ – pensava eu de mim para mim…

Quando o Miguel chegou em forma de feijãozinho, ainda não sabia muito bem como resolver a questão do nascimento. Mais do que querer um parto de sonho, sabia que não queria um parto das histórias de arrepiar. O cenário mudou quando, numas férias de fim-de-semana grande (que coincidiu com o dia da Mãe) comprei uma Pais&Filhos, onde se falava da semana mundial do parto respeitado, da humanização do parto e de doulas. Nunca tinha ouvido falar de doulas, mas a minha intuição dizia-me que uma doula seria, sem dúvida, a ligação a uma realidade que, até então, desconhecia.

Encontrei a Catarina no site das Doulas de Portugal. Depois de um encontro do qual resultou uma longa conversa, o João e eu gostámos tanto dela que nos decidimos por ela, se aceitasse acompanhar a nossa gravidez. Daí até ao parto que sonhámos juntos, foi apenas uma questão de tempo, com o nascimento em casa a ser a opção mais óbvia, depois de dissipadas todas as dúvidas.

E as luas foram passando e a barriga crescendo, ao longo de 40 semanas. E no final de Outubro, na mudança para o quarto minguante, senti um ligeiro cansaço e um aperto na barriga e soube que o momento tão ansiado estava a chegar… Eram 6h da tarde do dia 20. Antes de nos deitarmos, revi com o João tudo o que haveríamos de precisar. A piscina cuidadosamente colocada no quarto do Miguel, as velas e o candeeiro de luz suave, os ouriços das castanhas que combinámos plantar quando o bebé nascesse e a música, já lá estavam há alguns dias, aguardando, como nós. O plano de parto também já tinha sido entregue. Ligámos à Catarina e fomos dormir, mas não por muito tempo. Às 2h da manhã as contracções tinham aumentado e já não conseguia estar deitada… Passámos o resto da noite no sofá a dormitar e a Catarina chegou, por volta das 9h, já tendo avisado também a Ana Ramos, a nossa parteira.
Estava um lindo dia de sol e decidimos dar um passeio pela praia… Caminhámos os quatro durante 3 horas, pelo areal da praia de Carcavelos, as contracções aumentando de intensidade. Lembro-me de ter dito ao João que, por mais que vivesse, nunca esqueceria aquele dia. Mas aquele dia ainda estava longe de acabar…

Enquanto o Miguel percorria o seu caminho na direcção deste mundo, com cada vez mais força, nós almoçámos calmamente, conversámos e bebemos o chá de chocolate da Naoli. A Catarina ía massajando as minhas costas, onde as contracções se faziam sentir, e eu mudava de posição constantemente, caminhando pela casa.

Foi no final da tarde que tive vontade de entrar na piscina. Lembro-me de ter passado bastante tempo de joelhos e de cócoras, agarrada ao bordo da piscina. As contracções eram agora muito fortes e, para aliviar a intensidade da dor, a Catarina e o João iam fazendo escorrer água morna pelas minhas costas.
O dia de sol deu lugar a uma noite de chuva, como se fosse um sinal de que a chegada do Miguel estava próxima. A certa altura, precisámos de um momento a sós, a mamã, o papá e o bebé… O João juntou-se a nós na piscina e ali ficámos agarradinhos, a apreciar aquele momento, ao som da banda sonora do filme da Amélie Poulin. Mas não sem antes o vizinho do lado nos bater à porta. E lá foi o João a pensar no que lhe iria dizer, quando afinal era só para avisar que estava a chover no nosso carro, porque tínhamos deixado o vidro aberto. Também me lembro de dar por mim a rir, a rir à gargalhada, nem sei bem porquê!

Um pouco mais tarde, cheguei a sentir que ‘já não aguentava mais’. Sabia, pela Ana e pela Catarina que, quando chegasse a este ponto o bebé estaria prestes a sair. Mas fiquei sempre na dúvida sobre o que seria ‘não aguentar mais’. E se achasse que era naquele momento mas, afinal, ainda aguentasse mais um bocadinho? Fiquei à espera que as contracções aumentassem mais, mas senti que o trabalho de parto estava a regredir… Decidi que era melhor sair da piscina e começar tudo de novo. Deste momento em diante, é tudo muito vago na minha memória. Desliguei-me de tudo e perdi a noção do tempo. Voltei mais tarde para a piscina, onde ainda tive apetite para uma tostinha de queijo, antes dos momentos finais.
Passei aquilo que me pareceu bastante tempo, recostada de barriga para cima, a recuperar a energia. Eu sabia que esta não era a melhor posição para ter o bebé, mas precisava de recuperar a força para a fase expulsiva do parto. Adormecia profundamente entre uma contracção e outra (agora tão fortes como nunca), sem ter a noção de quanto tempo passava nesse intervalo. A Ana e a Catarina também chegaram a adormecer, cada uma a segurar-me uma mão. Nessa altura, o João sentiu que já não podia ajudar mais e saíu de cena por um bocadinho. Pouco antes do fim, dei por mim a lutar contra as contracções, em vez de me deixar levar por elas. Foi a doce voz da Catarina a pairar no ar, a dizer-me para abrir o meu corpo para o Miguel, que me deu um novo alento. Lembro-me de ter dito ‘Vou pôr-me de pé!’ E assim o fiz. Agarrei-me ao bordo da piscina de pernas flectidas, e as águas rebentaram logo de seguida (‘Ah, a bolsa, só agora rebentou… Já nem me lembrava da bolsa, julguei que fosse o bebé’, pensei eu). A Ana pediu-me para ouvir o coração do bebé mais uma vez, mas eu não quis. A seguir, a cabeça apareceu e logo senti o anel de fogo, como se eu fosse um vulcão prestes a libertar a sua preciosa lava. Depois, uma súbita vontade de fazer força (‘Agora é entre mim e ele’, foi o que eu disse, segundo a Catarina). E então rugi, rugi como uma leoa, ecoando pela madrugada…

Eram 3h38 do dia 22 de Outubro, e o Miguel veio finalmente ao mundo, num lindo mergulho para dentro de água! O João chorava de alegria… Eu sentia-me aliviada, por um lado, por poder finalmente descansar e, ao mesmo tempo, eufórica e sem vontade nenhuma de o fazer. O papá cortou o cordão umbilical, depois deste parar de pulsar, enquanto eu segurava o nosso pequerrucho no colo, contra o corpo, amamentando. Para além do Miguel, nasciam também um papá e uma mamã orgulhosos da viagem que acabavam de iniciar!

Nesse dia fui mulher, mãe, deusa e rainha, como nunca havia sido… E tudo graças a duas grandes mulheres, a Catarina e a Ana, e a um namorado maravilhoso, que tudo fizeram para que me sentisse assim!...







Uma foto mais recente do pirata Miguel

7 comentários:

P e M disse...

Lindo!!!!!!!!!!!!

Eu não consigo dizer mais nada... estou a chorar...

Unknown disse...

Querida P. não queres escrever também sobre o teu lindo parto?

P e M disse...

Escrever sobre o parto até conseguia, mas o pós-parto e a semana (forçada) de "férias" na maternidade... só de pensar...

Além de que ia começar a chorar logo de início e não conseguiria acertar com as teclas...

Talvez um dia.

Feliz Páscoa

mjf e pmp disse...

querida colega "leoa",
obrigada por partilhares o relato! comparado com o teu, o meu foi um parto "expresso"... nem cheguei a provar o famoso chá da Naoli... (snifff... buáaaa....). muitos parabéns aos 3 e muitas felicidades!!!(eu vi que me ligaste: a ver se te ligo em breve. bjos)

Unknown disse...

Eh eh! Colega 'leoa', que giro : )
Achei muito engraçado a comparação que fizeste, pois foi exactamente o que eu achei do meu 'grito' final : )
Podemos sempre combinar um dia e fazer chá da Naoli, se quiseres! As pessoas não grávidas tb podem beber ; )
Não tentei ligar-te, pelo menos que tivesse dado conta... Desculpa... Mas podes ligar à mesma, se quiseres ; )

P, gostava muito de ouvir a história do teu parto tb : )
O meu pós-parto tb não foi dos melhores mas acho que é mesmo assim...

Cat, gostei muito do que escreveste neste post : ) Obrigada por me deixares partilhar esta história no teu blog : )

Boa Páscoa para todos!!

Unknown disse...

Sempre tiveste muito jeito para escrever e está lindo :)
Devias imprimir para o Miguel ver qdo for mais crescido

Bjs
Suze

Anónimo disse...

Gostei muito do relato, revi-me no meu parto, há coisas muito semelhantes, o descansar antes da fase de expulsão, o pensar q n aguentamos mais, a dor do anel de fogo e o rugir q nem uma leoa, lol! Tal e qual o q se passou cmg ;) ! A natureza é mm linda!
Joana Almeida