"Durante meu trabalho de investigação numa grande maternidade jamaicana, havia uma luta constante entre as parturientes e as parteiras, querendo as primeiras levantar-se para se agacharem ou balançarem o pélvis para trás e para a frente, com os joelhos fletidos, e tentando as segundas metê-las na cama, onde deveriam deitar-se sossegadas, como boas doentes.
Uma freira da classe média, que estava de serviço na sala de parto, embaraçada por eu, uma pessoa de fora, estar a assistir a isto, disse: 'Não sei como aguenta ver isto. Elas são como animais!'
O pessoal estava perfeitamente consciente de que os movimentos executados pelas parturientes não eram adequados a um código de comportamento da classe média branca e sentiam-se envergonhadas.
As índias Sia sentam-se num banquinho baixo, enroladas num cobertor, de costas para o fogo, levantando-se e caminhando quando têm vontade. No momento da expulsão, ajoelham-se numa cama de areia, com as mãos agarradas ao pescoço do pai e as costas apoiadas ao corpo da parteira, que está sentada com os braços passados em torno delas, dando-lhes massagens no ventre. Entre os nômades siberianos, a parturiente apoia-se a duas traves paralelas, a cerca de um metro uma da outra, ligadas por uma barra transversal; durante as contrações fica suspensa por baixo dos braços, de modo que toda a parte de baixo do corpo fica descontraída, apoiada à barra. Na Ilha de Páscoa, que constitui uma exceção dado os parteiros serem do sexo masculino, a mulher decide se prefere ficar de pé com as pernas afastadas ou sentada; o parteiro fica de pé atrás dela, apoiando-a com o seu corpo e dá-lhe massagens lentas e ritmadas no ventre.
A posição que a mulher adota durante as últimas fases do trabalho de parto pode variar, desde sentada nas cadeiras e banquinhos usados na Europa medieval (que só se modificou no reinado de Luís XIV, quando os obstetras convenceram as amantes do rei a dar à luz deitadas em mesas demodo a que aquele, escondido atrás de uma cortina, pudesse ver tudo)[apud Pete M. Dunn, "Obstetric Delivery Today", Lancet, April 10, 1976.], até balançar pendurada nas traves da cabana. A posição mais freqüentemente adotada, e que é também a mais vantajosa do ponto de vista fisiológico, é com as costas curvadas, os joelhos fletidos e os músculos que percorrem a parte interior das coxas descontraídas..."
(Sheila Kitzinger, Mães - um estudo antropológico da maternidade. Lisboa, Presença, 1978; pp.93-94)
Sobre o blog:
“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones
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