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“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Polêmica da plástica pós-parto divide opiniões nos EUA


Pacotes 'mommy makeover' vendem às mães a imagem de um corpo 'restaurado'.
Marketing em torno da busca pela perfeição iduziria mulheres a fazerem mais cirurgias.
O doutor David A. Stoker, cirurgião plástico de Marina Del Rey, na Califórnia, possui a cura cirúrgica para os danos da maternidade. Ele, assim como tantos outros cirurgiões plásticos dos EUA, chama o trabalho de "mommy makeover", algo como a plástica ou recuperação do corpo da mamãe.

Destinadas às mães, em geral as cirurgias são oferecidas em pacotes de três: uma levantada nos seios com ou sem implantes de silicone, redução da barriga e lipoaspiração. Os procedimentos têm o objetivo de diminuir a flacidez da pele e reduzir as estrias e a gordura adquiridas na gravidez.

"O grave trauma físico proveniente de gravidez, parto e amamentação pode resultar em efeitos negativos profundos que fazem com que a mulher perca o contorno do corpo", disse ele. Sua clínica, a Marina Plastic Surgery Associates, mantém o site amommymakeover.com, que descreve as cirurgias necessárias para colocar o corpo pós-gestação em ordem.

Fênomeno da natureza

"Há vinte anos, as mulheres não achavam que havia como solucionar esses problemas e se cobriam com roupas discretas", contou Stoker. "Hoje, porém, as mulheres não precisam ficar envergonhadas ou chateadas com a aparência".

Em 1970, o famoso guia de saúde da mulher "Our bodies, ourselves", descrevia as mudanças cosméticas que podem ocorrer durante e depois da gravidez simplesmente como um fenômeno da natureza. Mas hoje, as rígidas regras de beleza estão classificando as transformações da maternidade na categoria de ônus.

Esses padrões irredutíveis são fruto da tecnologia e da cultura pop, uma combinação que trata as mudanças biológicas como se fossem tão substituíveis quanto a cor do cabelo. As revistas de fofoca não perdoam as mães celebridades que não perdem imediatamente o "peso do bebê". Até a Cookie, uma revista de luxo para pais, recentemente publicou um artigo que descrevia os seios pós-gestação como "a pior das afrontas" e promovia a cirurgia de implante de silicone. Uma foto de bexigas caídas cheias de água ilustrava a matéria
Muitas mulheres lutam contra o impacto do envelhecimento e da gravidez. Mas o marketing do "mommy makeover" tenta transformar em patologia o corpo pós-parto, caracterizando a gravidez e o parto como enfermidades com efeitos desfigurantes que podem ser consertados com a ajuda de bisturis e cânulas.

"A mensagem é que, depois de ter filhos, o corpo da mulher muda para pior", declarou Diana Zuckerman, presidente do Centro Nacional de Pesquisa da Família e da Mulher, um grupo sem fins lucrativos de Washington. Se o marketing conseguir fazer com que o corpo pós-gravidez "se transforme em algo inaceitável socialmente, imagine o tamanho do seu público e quantas cirurgias você conseguiria vender para esse público", disse ela.


Cada mulher reage de uma forma à gravidez. Idade e genética influenciam o modo como o corpo se recupera. Embora muitos cirurgiões plásticos argumentem que a gravidez "deforma" os seios e redistribui a gordura dificultando a sua eliminação apenas com a prática de exercícios físicos, alguns obstetras discordam.

"Algumas mulheres ficam com estrias devido à gravidez ou ao ganho de peso", explicou o doutor Erin E. Tracy, professor assistente em obstetrícia, ginecologia e biologia reprodutiva da Harvard Medical School. "Mas não há anormalidade intrínseca aos seios ou ao abdômen".

A cirurgia das mamães é vendida tanto como um reparo rápido para o peso adquirido e difícil de perder depois da gravidez, quanto como uma maneira de frear o próprio envelhecimento. Dezenas de médicos dedicam seções de seus sites à plástica das mamães, inclusive o doutor Lloyd M. Krieger, cirurgião plástico de Beverly Hills, na Califórnia, que oferece a Rodeo Drive Mommy Makeover para mulheres que querem ter "a barriga e os seios como eram antes da gravidez".

A cirurgia da mamãe chamou a atenção do público no início deste ano depois de a Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos reportar um aumento no número de cirurgias plásticas entre mulheres em idade reprodutiva (nem todas necessariamente mães). No ano passado, os médicos em todos os EUA realizaram mais de 325 mil "procedimentos mommy makeover" em mulheres de idade entre 20 e 39 anos, um aumento de 11% em relação a 2005, segundo o grupo.

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Riscos
Outros cirurgiões, porém, preocupam-se com a possibilidade de que pacotes de diversos procedimentos com um nome charmoso acabem induzindo as mulheres a fazer outras operações, aumentando potencialmente o risco de contrair infecções e até morrer.

Diversos estudos publicados em periódicos de medicina reportaram os índices de mortalidade causada por lipoaspiração de uma morte em cada 5.000 procedimentos a uma morte em cada 50 mil procedimentos.

Em Dallas, pai e filho cirurgiões plásticos, os doutores Harlan Pollock e Todd Pollock, usam o site, www.drpollock.com, para exibir a "mommy makeover" como estratégia de vendas.

"O marketing inteligente pode incentivar a correção de uma deformidade que até então não preocupava muito", escrevem os médicos. "Isto é, uma mulher que deseja fazer uma abdominoplastia, embora não esteja particularmente preocupada com a aparência dos seios, pode ser influenciada a fazer a plástica nos seios só porque está incluída no 'pacote"'.

Alguns defensores da saúde não estão se convencendo de que as mudanças cosméticas causadas pela gravidez mereçam supervisão médica. "Algumas mulheres voltam a ter uma barriga lisinha e outras não, algumas retomam o peso que tinham antes de ter filho e outras não", declarou Judy Norsigian, diretora executiva do Our Bodies Ourselves, um grupo de saúde de Boston, e autora do livro de mesmo nome. "A questão é, isso requer tratamento com plástica cirúrgica?".

retirado globo.com

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