Sobre o blog:

“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Entrevista com a parteira holandesa Mary Zwart (Folha Equilíbrio - 22/02/07)


CAMPANHA PELO PARTO NATURAL

A parteira holandesa Mary Zwart diz que o parto só deve ser feito por médicos em caso de gravidez de risco


[...]
"Os médicos são educados para curar, e nós, parteiras, para cuidar"

Com as maternidades cada vez mais equipadas e as tecnologias voltadas para o parto em constante modernização, ter um filho sem um médico por perto pode parecer um retrocesso. Não é o que pensa a maioria das gestantes holandesas. No país que tem um dos menores índices de mortalidade no parto do mundo, 85% das grávidas são acompanhadas por parteiras -que recebem uma formação de quatro anos voltada para o parto normal, método pelo qual nascem quase todos os bebês por lá.
Muitas delas escolhem ter seus filhos em casa.

Ícone da defesa da humanização dos nascimentos, a parteira holandesa Mary Zwart, já trouxe mais de 4.000 bebês ao mundo. Na atividade há 30 anos, ela participa, desde 2000, do movimento pró-parto humanizado no Brasil.


FOLHA - Medicamentar o parto é ruim para mulheres e bebês?

MARY ZWART - Acho que a intervenção médica só deve ocorrer quando for necessária. A gravidez e o parto são um sinal de saúde das mulheres. Não são procedimentos médicos, mas uma parte da vida. Não podemos transformar algo natural em um evento médico.

FOLHA - Ter um filho em casa deveria ser a primeira opção? É seguro?

ZWART - Para os mamíferos, o natural é permanecer no ninho durante o parto -e não sair dele. Mas o ninho deve ser seguro. É preciso ter uma infra-estrutura que torne isso possível: água totalmente limpa, comida adequada, o suporte de uma parteira, do médico de família ou de uma enfermeira com formação voltada para o parto. Se a mulher se sentir segura em casa, ela deve poder aproveitar essa oportunidade.

FOLHA - No Brasil, cesarianas são muito comuns. Esse método é pior do que o parto normal?

ZWART - As pesquisas dizem que as cesarianas não salvam mais as mulheres, elas as matam. Na Espanha, as mortes de mães acontecem em primeiro lugar por causa das cesarianas. Estudos da Organização Mundial da Saúde mostram que, com as cesarianas, sete vezes mais mulheres morrem do que com o parto normal. Os profissionais que lidam com os partos devem considerar que cortar mulheres desnecessariamente traz prejuízos econômicos para um país. Isso sem contar as mortes de mulheres.

FOLHA - A sra. participa do movimento de humanização do parto brasileiro desde 2000. Acha que tem conseguido bons resultados?

ZWART - Estou encantada com o que foi feito em sete anos. Médicos e parteiras estão envolvidos. Se compararmos com Portugal, por exemplo, o movimento brasileiro é muito mais antigo. Em Portugal, o movimento pelo parto humanizado começou no ano passado. No Brasil, existe desde 1985.
FOLHA - Como são feitos os partos na Holanda?

ZWART - Somos conhecidos por não gostarmos de gastar dinheiro com algo que é gratuito. Dar à luz em casa é o meio mais econômico de parto, e essa é nossa primeira escolha quando a mulher está bem. Na Holanda, 70% dos partos normais são assistidos exclusivamente por parteiras. No Brasil, onde ao menos 77% são acompanhados por médicos, o índice de mortalidade materna é dez vezes maior do que o nosso. A mortalidade de bebês é quase quatro vezes maior.

FOLHA - Quando a mãe tem alguma complicação no parto domiciliar, há tempo de ir ao hospital?

ZWART - Sempre. Mas é importante dizer que, primeiro, existe uma seleção de risco durante a gestação. Se a mulher tiver uma gravidez de risco, vai ter o filho no hospital.

FOLHA - O que uma parteira pode fazer por uma grávida?

ZWART - Na Holanda, a parteira tem uma formação de quatro anos só voltada para a gravidez e o parto. Os médicos não têm esse tempo de educação voltado só para a mãe. Eles são educados para curar, e nós, para cuidar. Um especialista em cura é a pessoa errada para acompanhar a mulher no parto, que precisa de cuidados -e, só algumas vezes, de cura.

FOLHA - A sra. já trouxe mais de 4.000 bebês ao mundo. Há alguma posição melhor para ter filhos?

ZWART - Isso depende da mulher. Se não houver contra-indicação médica, ela pode dar à luz como e onde se sentir melhor. Ela deve ter essa escolha.

FOLHA - No Brasil, as mulheres costumam ter deitadas, na cama.

ZWART - Essa é a pior posição que existe. Se o bebê for pesado, a mulher coloca o peso na aorta abdominal. Isso machuca muito a mãe.

FOLHA - Como a mulher deve se preparar para o parto?

ZWART - Mesmo quando ela engravida por escolha, há sempre medo. Um bebê compromete a vida para sempre. É normal ter medo, mas isso não deve ser pesado demais, pois, para o parto, é fatal. A gestante precisa pensar que é uma mulher madura, que pode dar à luz, que poderá fazer as coisas que gosta, mesmo com uma criança. Esse medo deve ser trabalhado durante a gravidez.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu moro na Holanda e tive o desprazer de passar por um parto com as parteiras daqui. Apesar de 4 anos de estudo elas são limitadas a poder fazer pouquíssimo no caso de complicações. Eu sofri 20 horas no meu segundo parto (a média é de 8 a 12 horas) porque as parteiras daqui nem sequer tem autorização pra dar uma infusão dilatora. Tive que correr pro hospital e lá sim, os médicos salvaram a minha vida e a do meu bebê.
Se eu puder, jamais procuro uma parteira novamente pra ter filho. Infelizmente isso não depende só de mim, ou tenho que ter mais de 35 anos pra representar gravidez de risco ou algum outro problema séria, como diabetes, gravidez de gêmeos, etc.
Por mim, viva os ginecologistas!

Fernando disse...

Essa Senhora auxiliou no parto do meu segundo filho em Portugal. A mãe saiu da banheira com nosso filho no colo até a cama. O parto não durou duas horas. Depois cortei o cordão e limpei ele. Foi tudo ótimo. Mais de 5000 bebês nasceram com a ajuda dela. Em Portugal existe uma Associação chamada HUMPAR, com muita informação interessante. Inclusive o presidente dessa Associação é o enfermeiro-chefe da maior maternidade de Portugal em Coimbra. Abraço