Sobre o blog:

“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

domingo, 4 de dezembro de 2016

MÃES COM MEDO DO ESCURO

"Algumas mães são sozinhas com os seus bebés e isso faz-me sempre ficar mais preocupada com elas. Porque são mães solteiras ou porque o marido está a trabalhar longe.

Ou porque se sentem muito isoladas, ainda que estejam acompanhadas.

A noite é longa e escura e pode ser difícil de atravessar a sós. 
Surpreendi-me bastante ao longo destes anos com o número de mães que me confessaram ter, elas próprias, “medo do escuro”.

É importante encontrar pontos de apoio se estamos sozinhas com os nossos bebés, na mesma medida em que é importante aproveitarmos a oportunidade para reflectirmos de onde vem esse nosso “medo do escuro”, porque às vezes ele pode estar a vir de as noites serem tão difíceis com o nosso bebé ou pode vir bem mais lá de trás.
(...)

Estas são as mães que trago mais vezes comigo em pensamento. E partilho com elas algo que me ajudou a mim também sempre que senti que a noite estava a ser longa demais, difícil de atravessar.

Sempre que velei uma bronquiolite ou um febrão dos meus filhos, sempre que sosseguei um terror nocturno e a seguir fiquei eu desperta com o meu coração a bater rápido e descompassado enquanto o meu bebé já dormia sossegado nos meus braços, sempre que adormeci inquieta com algo, sempre que não houve mais que eu pudesse fazer do que simplesmente estar ali, a fazer-me de forte enquanto desejava que a manhã chegasse depressa e com ela a luz tranquilizadora do dia, houve algo que me acalentou nessas noites:

A ideia de que não estamos sozinhas. 
Na verdade não estamos sozinhas.

Em todo o mundo há mães a atravessar a noite, preocupadas com os seus filhos. Preocupadas com a sua segurança. Com o dinheiro para os sustentar. Com a sua felicidade.

Há mães que atravessam a noite não sabendo se os seus filhos sobreviverão porque estão gravemente doentes. Ou se as bombas de uma qualquer guerra as atingirão.

Há mães que não conseguem descansar, não porque os filhos não durmam, mas porque simplesmente não é seguro dormir.

Nos momentos mais difíceis, e ainda assim tão menores do que outras mulheres estarão a passar algures, se em algum momento me surge o meu próprio medo do escuro, penso em todas estas mães e envio-lhes um pensamento de coragem, uma vibração de amor.

Consolo-me por saber que somos fortes e conecto-me com esta energia que cuida e que nos une.

Todas as noites, em todo o mundo, há mães que velam o sono dos filhos.

Nós somos apenas mais uma."

(Constança Cordeiro Ferreira in «O Livro de Magia das Mães» ed. Matéria Prima, Julho de 2016)

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