Sabemos que o corpo demora em se reacomodar depois da gravidez e o parto…mas supomos que logo mais tudo vai “ ser como antes”. A maior surpresa irrompe quando o desejo sexual não aparece como estávamos acostumadas. Sentimo-nos culpadas, principalmente quando @ obstetra dá a permissão para recomeçar as relações sexuais para alegria do parceiro que com cara de satisfação pisca o olho e fica todo animado..
Mas o corpo não responde. A libido encontra-se nos peitos aonde acontece atividade sexual constante, dia e noite. O esgotamento é total , as sensações afetivas e corporais tornam-se muito sensíveis e a pele é como de um fino cristal precisando ser tocado com extrema delicadeza. O tempo prolonga – se ; qualquer ruído é incomodo, fusionamo-nos com as sensações do bebê , ou seja , a vivência de nadar num oceano imenso e desconhecido..
Tomamos a decisão intelectual de responder às demandas lógicas do homem, de satisfazê-lo e reencontra-lo . Mas não funciona … só se fizéssemos uma desconexão das nossas mais intimas e verdadeiras sensações ( muitas de nós estamos bem treinadas para isso). Em geral estamos pouco conectadas com a nossa sexualidade profunda e feminina , navegamos facilmente no desejo do outro, com o propósito de agradar e ser querida. Afastamo -nos da nossa essência e vamos nos acostumando a sentir segundo os parâmetros de outro corpo , outro gênero.. Ficamos desorientadas perante o desconhecimento das nossas próprias regras regidas por um feminino que passa desapercebido na profundidade do nosso ser essencial.
É essa essência da alma feminina que aflora com a aparição d@ filh@ e principalmente com o vinculo fusional que é estabelecido entre o bebê e a mulher florescida .
Para que compreensão leva-nos a presença do bebê?
Acho que para um lugar-estado aonde homem e mulher se conectam com a parte feminina da nossa essência e a nossa sexualidade.. é sutil , lenta, feita de abraços e caricias . É uma sexualidade que não precisa de penetração nem performance corporal, ao contrario, prefere tato, ouvido, olfato, tempo, doces palavras , encontro, música, risos, massagem e beijos.
Dessa forma não há risco, por que não fere a alma feminina fusionada .Não há propósitos, inclusive as vezes não há orgasmos já que o que importa mesmo é o encontro amoroso e humano . Há compreensão e acompanhamento da realidade física e emocional pela qual atravessa uma mulher com bebê no colo. Neste sentido é importante perceber que o bebê sempre está nos braços da mãe ; mesmo que fisicamente esteja dormindo do lado ou em outra cama . Ele participa emocionalmente no encontro amoroso entre os pais ; por isso é fundamental que seja suave, baixinho, acolhedor..
O surgimento de um filho outorga – nos a oportunidade de registrar e desenvolver pela primeira vez as modalidades femininas que tanto homens como mulheres conservamos como sendo parte dos nossos funcionamentos sociais , afetivos e é claro, também sexuais. Ou seja: sem objetivos, sem obrigação, sem demonstração de destrezas físicas…simplesmente podemos descobrir essas outras “ maneiras femininas” que enriquecerão a nossa vida sexual futura, por que integramos aspectos desconhecidos de nós mesmos.
Nós Todas – mulheres – desejamos prolongados abraços, apaixonados beijos ,massagem nas costas , conversas, olhares , calor e disponibilidade do homem . Mas o mal entendido que gera qualquer aproximação física que possa ser interpretada como um convite ao ato sexual obrigatoriamente induz a mulher a se afastar de antemão para se proteger e também recusar qualquer gesto carinhoso, intensificando o desapontamento do homem diante de um aparente desamor.
Por isso é imprescindível que feminizemos a sexualidade, durante o tempo da fusão emocional entre mãe e criança; quer dizer, ao redor dos dois primeiros anos. Isto permite curtir, e ao mesmo tempo desenvolver capacidades de comunicação e afeto que em outras circunstâncias não teríamos desenvolvido. O sexo pode ser muito mais pleno, mais doce e completo se compreendemos que chegou a hora de descobrir o universo feminino, o redondo dos corpos e a sensibilidade pura.
Acariciemos uns aos outros até morrer!!!!! Permitamo – nos coitos muito mais elevados que as meras penetrações vaginais denominadas de “relações sexuais completas” – Como se o prazer estivesse limitado por praticas esquematizadas assim…
Acho que têm uma luta cultural entre o que todos achamos que é certo e o que realmente passa-se em nós. Acontece com nós – mulheres, que não podemos mais fazer amor como antes, Os homens ficam bravos, angustiados e afastam – se , ao invés de ambos estarem envolvidos no que acontece como uma tríade (incluindo o bebê)
Por outro lado talvez algumas mulheres começamos a reconhecer -por primeira vez – o calor da sexualidade feminina, que além da excitação corporal inclui uma intensa consciência sensorial. As vezes desconhecemos os ritmos naturalmente femininos e esforçamo –nos por pertencer a uma modernidade aonde as sensações mais intimas não têm valor , não liga –se pra elas. A sexualidade precisa ocasionalmente de visitas de criaturas fantásticas, fadas e duendes que despertem com uma varinha mágica os desejos ardentes da alma das mulheres para que o sexo derrame amor e fantasia.
Nessas ocasiões suspeitamos que o sexo é sagrado e sensual: acontece quando uma brisa percorre o corpo físico , produzida por um beijo, uma palavra amorosa, uma piada, um olhar cheio de desejo. Nesses precisos momentos vibramos por nos sentir amadas e rejuvenescemos em poucos segundos em explosões de vida e paixão.
Laura Gutman http://www.lauragutman.com
Tradução de Tai Nilo
Este texto pode ser divulgado desde que citada a fonte , autora e tradutora
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