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“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

terça-feira, 5 de março de 2013

Autoestima - O papel da criança boazinha



A criança tem uma profunda necessidade de reconhecimento e aprovação dos pais, para sentir que ela existe, que tem importância. É a partir desse reconhecimento que vem dos pais que a criança vai amadurecendo e aprendendo a reconhecer-se e a amar-se, até que se torna um adulto saudável e independente emocionalmente. Isso, é claro, só acontece quando os seus pais são pessoas emocionalmente saudáveis que souberam como suprir essa carência da criança.
A avidez que a criança tem por reconhecimento é enorme, e ela vai desenvolver estratégias para obtê-lo, conforme a reação dos adultos. Uma das maneiras de obter essa aprovação que ela tanto busca, é através do papel da boazinha.
"Que criança educada! "Que criança obediente, faz tudo que a gente pede!" "Como ela não dá trabalho, não reclama de nada!" "Como ela é meiga e doce!". E assim, para obter esse tipo de aprovação, algumas crianças começam a passar por cima dos seus verdadeiros desejos e opiniões para se encaixar com as expectativas dos pais.
Elogios e reconhecimento são muito bem vindos na educação das crianças para que elas possam fortalecer a sua autoestima. Entretanto, quando os pais têm uma baixa autoestima, eles podem usar o elogio e a aprovação como um meio de manipular o comportamento da criança, e não como uma forma de demonstrar amor verdadeiro e incondicional. Ainda mais quando são pais que têm padrões emocionais de querer controlar a vida e os gostos dos filhos.
Nesse tipo de família, a criança desde pequena não tem permissão de ter sua própria vontade e opinião, a não ser que essa vontade e opinião coincida com a dos pais. Quando há essa coincidência, ela recebe o reconhecimento e atenção. Porém, quando demonstra querer algo diferente ou pensar de forma divergente dos pais, logo é punida e criticada. A criança sente-se culpada, parece que ter a sua própria vontade é algo errado, e aprende a ir deixando de lado os seus verdadeiros pensamentos e sentimentos para se moldar ao desejo dos adultos.
Por exemplo. Um certo dia, a criança prefere ficar em casa em vez de fazer um determinado programa em familia, ou prefere divertir-se com os seus amigos. Alguns pais ficam ressentidos com o filho quando ele tem esse tipo de desejo, chegando a criticar, brigar e até obrigar a criança a fazer o que eles querem. Essa criança começa a internalizar que não é certo ter a sua vontade própria, que é melhor que ela seja "boazinha" para não causar tristeza, sofrimento ou raiva nos seus pais. Ela passa a sentir-se responsável pela forma que os pais se sentem.
No caso de pais emocionalmente equilibrados, eles ficam felizes em ver que o filho está começando a trilhar o seu próprio caminho e a fazer as suas escolhas. São pais que vão conversar com a criança, ouvindo-as com sinceridade, preocupando-se com o que elas realmente estão sentindo e lhe darão a opção de escolher em muitas ocasiões que programa fazer. Ficarão verdadeiramente felizes em ver a felicidade dos filhos, mesmo que eles queiram seguir um caminho diferente daquele idealizado pelos pais. Não haverá qualquer punição em forma de críticas ou falta de reconhecimento pela fato da criança ter uma vontade diferente.
Assim a criança cresce livre e não precisa assumir o papel da boazinha para ganhar reconhecimento e aprovação. Ela sente que é amada independentemente das escolhas que faz. Cresce então com mais confiança em si mesma e torna-se um adulto com boa autoestima.
Ao passar por cima dos seus próprios desejos e atender aos pais, a criança tem um ganho imediato que é o reconhecimento e aprovação. Pensa que assim está recebendo amor. Entretanto, cada vez que ela deixa de seguir o seu próprio caminho, vai guardando sentimentos de frustração e insatisfação. Inconscientemente vai ficando ressentida consigo mesma e também com os seus pais. É comum também sentir-se sufocada e presa.
Algumas famílias não tem um padrão intenso de controle e manipulação, mas mesmo assim, sutilmente influenciam e manipulam a escolha dos filhos. São pais que não vão criticar ou brigar, ou obrigar a criança a fazer determinadas coisas quando elas não querem, mas podem trata-la com indiferença. Ao passo que, quando esse filho toma a decisão que os pais acham ser a correta, ganha algum tipo de reconhecimento. A criança é também extremamente sensível a indiferença e por isso em boa parte das vezes será levada a agir da forma que os seus pais desejam, passando por cima dos seus próprios sentimentos.
A criança que cresce com o padrão da boazinha desenvolve uma necessidade de reconhecimento e atenção que baixam a sua autoestima, carregando essas dificuldades pela vida adulta. Conforme já expliquei anteriormente, esse adulto guardará dentro de si mágoas, frustrações e ressentimentos contra si mesmo, por não ter seguido seu caminho. Além disso, sentirá raiva das pessoas pelas quais se sentiu manipulado, gerando afastamento, brigas e problemas de relacionamento.
Cabe aos pais cuidar da sua própria autoestima para que possam deixar que os seus filhos cresçam de forma independente. E, para o adulto que cresceu nessas circunstâncias negativas, cabe-lhe agora a ele procurar ajuda para melhorar a sua autoestima. De nada adianta culpar os seus pais. Ficar preso nas mágoas e ressentimentos dos pais é uma forma infantil de puni-los e de não assumir a responsabilidade pela próprio crescimento e felicidade, o que é bastante comum em casos de autoestima baixa. É também uma maneira inconsciente de perpetuar o próprio sofrimento.
André Lima

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