Sobre o blog:

“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Relato de Parto - Flor

Foi assim que nasceu a Flor...
Um Vbac em casa...
Que privilegio ser Doula e assistir a Amor verdadeiro!

Grata! Grata! Grata!

Agradeço à Patricia e ao Alex por partilharem comigo um acto tão sagrado, tão divino...

Agradeço à Ana por partilhar comigo a sua amizade

Agradeço à Flor por me ter escolhido como Doula

Foi sem duvida um nascimento lindíssimo que jamais esquecerei :)


"Passaram dois meses e meio desde que a Flor nasceu. Tudo começou com uma vontade mutua de ter outro filho. Um desejo profundo e divino. A viagem começou no coração e terminou no coração.Com uma força incondicional – o Amor.

Dia 25 de Março de 2011 soube que ia ser mãe pela 2ª vez. Foi uma alegria imensa. Mas também um medo profundo de não ser capaz, de não estar à altura, de não controlar o que podia acontecer. De não merecer. Mais tarde, soube que a minha melhor amiga ia ser também mãe. Iamos passar juntas por uma experiência extraordinária. Apenas tinhamos 10 dias de diferença.

Mas o meu ego trouxe logo ao de cima os meus medos. As minhas dúvidas, aquela vozinha na cabeça que não se cala:” e se isto aconteceu é porque algo de mal me vai acontecer, ela vai ter a criança e eu não!”. –entre outros pensamentos do género.

E como o Universo é um fotocopiador perfeito, quando estava de 7 ou 8 semanas tive uma ameaça de aborto. O meu mundo desabou! E todos os meus medos tomaram forma. Foi um periodo pelo qual estou muito grata, pois serviu para resgatar muita coisa. Consciencializar e limpar muito karma. Pude estar em contacto com quem eu sou de verdade. Obrigou-me a encarar o meu lado sombra e o meu eu verdadeiro começou a nascer nessa altura!

Vivi muita impotência, abdiquei de muito controlo, aprendi a agradecer e a merecer aquilo que me é dado com as mãos abertas, e o que é mais, importante o coração!

Muito importante foi perceber que não estou sozinha e que não me defino pelo exterior e pelo que me acontece;e sim pela minha escolha de como reagir a algo.

Este acontecimento aumentou a minha fé e proporcionou-me uma redescoberta da minha essência. Demonstrou que posso viver mais o presente e perceber que posso entregar ao céu que ele cuida.

Hoje acredito qure foi tudo isto que me possibilitoucomeçar a preparar para ter um parto como a minha alma desejava.

Foi um mergulho até ao fundo de mim para poder perceber que tudo é possivel. Que podemos ousar e voar mais alto de forma mais verdadeira, sem amarras sociais, fisicas ou de conhecimento.

Desde o inicio que ouvia falar dos partos em casa, mas achava que não seria capaz, que era preciso estar muito segura, que os meus medos não me iriam permitir parir fora do Hospital, da rede de segurança dos médicos e dos seus aparelhos milagrosos, depositando assim a responsabilidade e o poder sob o meu corpo em mãos alheias.

Mas lá no fundo eu sabia que a minha alma não partilhava desta opinião!

O medo nunca é bom conselheiro. Há muito que a minhaalma me pedia esta escolha, como forma de se exercer. Mas o ego não deixava; os medos eram realmente muitos.

O meu primeiro filho nasceu de cesariana; mas de há 5 anos para cá eu mudei muito e senti que estava na hora de confiar. De quaquer forma não quis deixar de por todas as hipóteses, caso houvesse necessidade, e por isso fui visitar o hospital de cascais. Na verdade depois de ter tido acesso a toda a informação que a Catarina( minha doula)me facultou e que são directivas actuais da OMS, fiquei perplexa com o conteúdo desactualizado e também com a forma arrogante, presunçosa do discurso da enfermeira que nos recebeu. Decididamente há ainda um longo caminho a percorrer e as mulheres deste pais têm que começar a reclamar o seu poder perdido sobre o seu corpo e vontade neste momento tão importante que é ser mãe.

Resumindo,senti que depois de entrar neste sistema, deixaria de ser dona do meu corpo e da minha vontade e seria aberta a porta a uma série de intervenções que levariam concerteza a uma cesariana. Sendo que a responsabilidade deste evento tão lindo e marcante que é um parto, passaria para as mãos de pessoas que não conhecia que não me iriam incluir no processo.

A verdade é que este padrão sempre esteve presente na minha vida – desresponsabilizar-me por mim, não escolher, abdicar desse poder em prol dos outros. Esperar que me digam o que fazer, para onde ir, o que dizer, o que parece mal ou não, o que é esperado. Sempre a viver segundo o que esperavam de mim e com a pressão de errar, de não ser capaz.Na verdade os maiores medos que encarei com todo este processo foram o medo de sentir, de não ser capaz e de estar sozinha.

Assim, sai do hospital com a profunda convicção de que não era aquela experiência que eu e a minha bébé queriamos para nós. Mereciamos algo diferente e mais que tudo:sentia no meu coração que estava profundamente preparada para um parto em casa.Onde eu pudesse ser a mulher que exerce o seu direito de escolher o que quer para si e para o seu corpo.

E quando é um apelo da alma, tudo se torna possivel, por isso, a parteira e a doula que até ai não estavam disponiveis, passaram a estar.

Assim, fomos conhecer a parteira - a minha querida Ana - numa quinta feira e a Flor nasceu na 4ª feira seguinte.

Após o encontro com a Ana o meu coração descansou, pois senti que aquela Alma era a certa para me poder acompanhar neste evento tão importante e maravilhoso da minha vida.

Até o próprio factor monetário, que era algo que nos preocupava, pois teríamos que pagar às prestações, foi resolvido, pois quando a Flor nasceu, o meu pai deu-nos uma grande prenda que resolveu todas essas questões.





“O parto”

Na 2ª feira durante a noite, comecei com contracções que eram diferentes das que tinha sentido. Tinham uma cadência certa e eram mais fortes.

Assim, telefonei à Ana, que prontamente se meteu ao caminho vinda de Évora e de manhã cedo já estava em minha casa trazendo a sua simpatia e também aparelhos e material necessário.Fez-me o ctg, o toque e percebi que ainda era falso alarme.Estava ainda tudo muito verde!

Por isso, quando a Catarina chegou, fomos dar um passeio no paredão para ver se as contracções começavam a vir com mais intensidade e ritmo. Realmenteaproveitámos muito bem a manhã, almoçamos muito bem num restaurante em Oeiras, mas as contracções estacionaram.

Assim, à tarde a Ana e a Catarina foram-se embora com a promessa de voltar assim que fosse preciso.

Hoje, vejo que este dia foi como um testar de que tudofuncionava quando fosse a hora. Pois um dos meus medos era não perceber quando devia chamar a parteira e doula para que chegassem a tempo de me ajudar no processo. Assim vi que tudo funcionava e podia acalmar e deixar fluir.

Ao fim da tarde as contracções começaram outra vez econtinuaram toda a noite.

Agora ainda mais intensas, o que me impossibilitou de dormir. Mais uma vez telefonei à Ana, que com a sua experiencia, me aconselhou a tomar um banho de imersão para ver o que acontecia. Na verdade as contracções ficaram um pouco mais fracas, mas já não passaram,sendo que a cadência era de 3 em 3 minutos.

E assim, por volta das 10 horas a Ana estava em minha casa e a Catarina também.

Após um toque, vimos que estava mesmo no inicio – deveria ter 1/ 2 dedos de dilatação. Durante todo este período senti que me podia exprimir e fazer o que achasse mais confortável para mim. Pude comer, beber água – na verdade, bebi um chá de parto que a Ana fez ( o chá de parto é um modo natural para intensificar as contracções) que juntamente com a reflexologia da Catarina ajudaram ao evoluir do processo.

A esta distancia, vejo que vivi um momento de cada vez, senti uma contracção de cada vez, absorvi cada bocadinho com calma, um a um, de cada vez! Como se de uma escada fosse, em que temos de subir um degrau de cada vez, sem medo, só com a consciência de que o nosso corpo é mestre e que somos capazes. Na verdade, ao longe, sentia que o Alex, a Ana e a Catarina estavam lá para me apoiarem, motivarem, mimarem e me darem asegurança que precisava para continuar; mas no centro da “imagem” estava eu e a minha bébé.

Nós fomos as actrizes principais, numa dança linda, fluída de trabalho de equipa.Também senti Jesus, durante todo o processo, enorme no seu amor incondicional e o meu Eu Superior, que estiveram lá a apoiarem-me neste caminho de dar à luz!

Para os que possam pensar que estou a “dourar a pílula”, não pensem que não tive dores! Claro que tive! E ainda bem; pois foram elas que me guiaram na direcção certa, me permitiram sentir o que tinha que fazer. Gritei muito! E ainda bem; pois foram esses gritos que me ajudaram a abrir o Canal, a abrir o meu corpo para trazer a Flor ao mundo! Desenganem-se aqueles que pensam que sentir dores de parto é o mesmo que sofrimento e solidão! Não tem de ser! Para mim não foi! São uma experiência que norteia e indica o caminho!

Permiti-me sentir tudo; cada lágrima, cada dor, cada sorriso, cada toque, caricia, beijo, grito e agradecer esta benção!

Nos momentos em que me apeteceu desistir, mesmo antes da fase da expulsão, pude contar com a experiência daCatarina e da Ana. A quem agradeço, do fundo do coração, pois souberam respeitar ritmos, vontades, silêncios. Como uma força imensa, que apesar de discreta, foi essencial para me ajudar. Uma força feminina imensa que me ajudou a reconhecer um poder que não me lembrava que tinha – um poder sagrado do corpo feminino, que unido à vontade da alma é capaz de Tudo!!

Assim, nasceu a Flor, no sofá da sala, depois do processode parto ter sido feito maioritariamente na bola de pilates. Eram 19,22h do dia 16 de Novembro de 2011 quando a vimos pela 1º vez.

E ai tudo desapareceu no momento em que lhe peguei ao colo, em que a beijei e por entre lágrimas lhe disse que a AMO.

Este diário de parto não fica completo sem fazer aqui um grande agradecimento ao meu marido, que soube estar onde era preciso, tanto na cozinha a fazer Humus, com a ir às compras, ou como a segurar-me e acariciar-me entre contracções.

Obrigada pelo teu Amor incondicional e por seres quem és – uma força discreta, mas tão forte na sua presença e apoio. Por aceitares e teres combinado de alma para alma viveres esta experiência comigo!

Por fim, termino agradecendo de alma e coração ao céu por esta experiência. Ela ficará para sempre gravada no meu património emocional e será sempre revivida em todo o seu Amor incondicional.

Permitiu-me resgatar o meu próprio parto, pois desde aíque tinha abdicado do meu poder de escolha, delegando sempre fora a responsabilidade, que é minha.

A vida tem outro sabor, quando escolhemos independentemente se acertamos ou errarmos, Afinal nada é perfeito e só atraimos o que nos faz evoluir!Obrigada!!! "

2 comentários:

Anónimo disse...

Chorei de felicidade por vós! Tudo de bom

Carla Morais disse...

Lindo! Pois era mesmo nisto que estava a pensar quando hoje te comecei a fazer perguntas sobre o parto em casa. Lindo!