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“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Como ajudar uma mulher em trabalho de parto


Artista - Amanda Greavette

A ideia de que a mulher precisa de ajuda para parir traz embutida em si o conceito de mulher como frágil, vulnerável e indefesa, que herdamos na história da nossa civilização. É com base neste conceito escondido que nos esmeramos em fazer massagens, ensinamos respiração, relaxamento, seguramos a sua mão, dizemos palavras de conforto, incentivamos a tomar banho, pomos musica, tiramos fotografias, filmamos. Onde foi parar a mulher na sua individualidade, e no seu direito à privacidade? Todos querem participar, "dar força", achar-se úteis, de certa forma co-autores deste "milagre".


Mas é a Mulher quem dá à luz. É ela a grande perpetradora do milagre que nos encanta, a rainha merecedora de todos os louros e aplausos. A experiência do seu próprio valor quando observa seu bebé e diz para si: "Eis o meu filho, que eu pari por mim mesma. consegui! E se fui capaz de passar por isso, também serei uma boa mãe." isto sim é inestimável.

Com base nessas reflexões, perguntamos-nos: como deve ser a nossa ajuda, afinal? O que deve ser o nosso objetivo maior? Até que ponto vai a nossa atuação, ponto esse que, se ultrapassado, estaremos maisa atrapalhar que ajudar?

Como ajudar na 1ª fase do trabalho de Parto?

Para o papel que se deve desempenhar na assistência efetiva à mulher em trabalho de parto, vale a pena esboçar em linhas gerais o que acontece em cada fase deste processo.

O início da Fase de Dilatação é marcado por uma certa ansiedade e euforia: o grande dia chegou. A essas alturas, as contrações não são muito fortes, e o momento é ideal para que a mulher  familiarizar-se com o ambiente à sua volta.
À medida que o trabalho de parto evolui com contrações mais frequentes e de maior duração e intensidade, a parturiente vai progressivamente "fechando-se". Este processo é natural e instintivo, e deve-se em parte à produção de endorfinas, substâncias de efeito semelhante ao ópio: diminuem a sensação de dor e têm efeito entorpecedor sobre a consciência. A mulher fecha os olhos, isola-se do mundo em seu redor, já não quer conversar. A nossa tendência natural é tentar ajudá-la mais, com conselhos e palavras de ânimo. Afinal, estamos lá para isso e precisamos de "mostrar serviço".

Nada pior que estimulá-la com o externo nessa hora! A real ajuda é quase imperceptível: fazer-se presente de forma subtil, acolhedora, sem qualquer estardalhaço. Defendê-la o quanto possível dos ruídos, das luzes fortes e tudo o que a faça sair para fora de si mesma. Quando a parturiente se sente segura, o parto dá-se de forma muito mais fisiológica.

Quando se aproximar da parturiente, posicione-se no mesmo nível que ela. É provável qe ela esteja de olhos fechados, enquanto se concentra no que está a acontecer  com o  seu corpo. Ficar ao seu lado ao invés de encará-la diretamente nos olhos reduzirá o risco de agir como fator de distração no trabalho de parto em curso.

Imite alguns de seus comportamentos, tirando disso algumas pistas sobre como deve agir. Se ela está quieta, evite fazer perguntas. Se ela está a descansar, descanse. 

Idealmente a parturiente deve estar consiente da sua presença, mas somente como uma sensação ou sentimento. Seu objetivo é deixá-la no controle de seu próprio trabalho de parto, num lugar que tenha  privacidade, intimidade e segurança.

Como ajudar nas fases finais do trabalho de Parto?

A chamada "Fase de Transição" é em geral a mais delicada e difícil de lidar, para a mulher e quem a assiste. As contrações são muito fortes.. A parturiente já está cansada das horas pelas quais passou e pode começar a entrar em desespero; pode agarrar-se às pessoas, e ao mesmo tempo rejeita que a toquem. Nesta hora, nem pense em acalmá-la, explicando isto ou aquilo. Os comandos breves, firmes e circunscritos ao momento são úteis.

No "Período Expulsivo" a parturiente muda totalmente de postura interior: agora substitui os gritos e a agitação por uma ação focada de força, de empurrar. Nem precisamos realizar o toque vaginal para identificar o expulsivo. Na maioria das vezes o que vemos acompanhar este momento é a correria do transporte à sala de parto, o posicionamento da mulher nos estribos da mesa de parto, a gritaria do pessoal: "Faça força! Não pare!" É quando todos parecem  histéricos que deveria ser o momento mais quieto e sagrado. A doula ou acompanhante do parto deve estar ao lado da mulher, consciente de que seu papel não é o de incentivar a fazer força. Instintivamente a mulher sabe quando fazer força NÂO É PRECISO DIZER A UMA MULHER COMO E QUANDO FAZER FORÇA!

Baseado num texto escrito originalmente em maio/2001 para o I Curso de Doulas organizado pelo Dr. Adailton Salvatore Meira em Campinas, SP

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