O triangulo invertido que representa a vulva da deusa parece ter sido adorado desde a pré- historia. Existem provas de sua utilização no Paleolítico como pendente, símbolo de fertlidade ou amuleto para afastar o perigo e foi realçado em estatuetas de Venus e estilizado em diversas formas de arte e nas escritas cuneiformes que constituem os textos mais antigos.
O triangulo genital da deusa,bastante conhecido atualmente devido ao seu nome sânscrito de yoni e cujo símbolo é uma flor de lótus,é a entrada e a saída para o mundo uterino. Todavia, o yoni da deusa não é apenas gerador da vida, o caminho pelo qual a vida entra no mundo;também é retratado em varias culturas como uma entidade faminta e independente, com entes vorazes – a vagina dentada.
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Curiosamente, o medo da vulva devoradora está ausente em imagens dominantes do culto indiano do yoni, onde a deusa em geral personificada por Devi ou Kali, surge deitada de costas, com pernas inclinadas ou em pé com as pernas afastadas,libertando o seu fluido vaginal, o yoni-tattva, um elixir divino que os seus devotos recebem na boca.
Num texto místico denominado Yoni- Tantra conta-se que o deus Brama cortou aos pedaços o cadáver da deusa Sati (Parvati) para aliviar o fardo de seu marido Shiva, que andava com ele de um lado para outro, desolado. A vulva caiu em terra em Kamakhya e foi construído um templo em sua honra no interior do qual o yoni está representado por uma rocha fissurada, sempre umedecida por uma nascente subterrânea natural, donde a água sai avermelhada uma vez por ano, devido ao oxido de ferro, na fase inicial da monção. Esta “menstruação” natural é interpretada pelos fiéis como uma maneira de a natureza confirmar a adoração da volva feminina e dos processos a que ela está sujeita e como prova de que a deusa é a terra. Em toda a Índia se encontram formações rochosas, grutas e dolmens semelhantes ao yoni e muitas vezes os peregrinos entram de rastos pela abertura, se esta é suficientemente grande e saem também de rastos, imitando o renascimento divino – a entrada e o regresso ao ventre celestial (quando tais estruturas naturais não existem, são construídas em formas de lagos triangulares no exterior dos templos). É também freqüente os altares dos templos hindus ostentarem manchas vermelhas ou triângulos pintados junto deles que simbolizam o yoni, que por vezes exibe um falo preto e ereto no meio, caso em que chama yoni- lingam e simboliza a união do deus Shiva com seu principio feminino, Shakti. Outras vezesé o prprio yoni que está na posição vertical, em especial quando colocado mesmo em frente de um altar.
O fluido do yoni é frequentemente confundido com o sangue menstrual nos textos místicos do budismo tântrico e tem o nome de “alimento de sangue” sendo muito venerado pelo poder especial que possui de curar e fazer magia. O fluido do yoni também tem o nome de pushpa, ou flor, porque “tal como a flor da arvore “, anuncia seu poder de dar frutos.
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Desde o Paleolitico que o sangue se encontra intimamente associado ao ritual e ao culto.Os seus símbolos eram o ocre vermelho (usado para tingir imagens e também encontrado sobre cadáveres em posição fetal, a fim de que estes regressassem ao ventre da terra, prontos a renascer) e o vinho tinto. O sangue constitui a base do clã, da realeza e da herança e tem-se admitido que as mulheres beneficiavam-se de um elevado posicionamento nas sociedades antigas por serem guardiãs e transmissoras – através da procriação – do sangue do clã e, portanto, do seu espírito. Outrora o sangue menstrual era considerado benéfico de muitas formas, sendo derramado nos campos como fertilizante e usado para curar e para conferir poder – nos tantras indianos há ainda alusões ao “sangue como alimento”. Os homens tentaram muitas vezes imitar a hemorragia menstrual nos seus rituais em atos como a circuncisão, a subincisão entre alguns aborígenes australianos e o corte dos mamilos que se realiza durante a Dança do Sol dos Sioux. Afirma-se por vezes que os sacerdotes inventaram tabus menstruais para não usar o sangue feminino em rituais que num determinada época, se confinavam às sacerdotisas. Assim, rejeitado como impuro, o sangue menstrual tinha de ser substituído, nas cerimônias sagradas, por outro proveniente do sacrifício de seres humanos e animais.
Shahrukh Husain - Divindades Femininas p. 96-97 e 139.
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