Sobre o blog:

“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

quarta-feira, 3 de março de 2010

Estudo da Deco - estou perplexa...

De acordo com um estudo publicado pela Deco quase um terço das crianças passa mais de nove horas na creche e mais de 70% vê televisão e tal acontece quase todos os dias para mais de metade!!! Nos jardins-de-infância, a esmagadora maioria (90%) vê televisão e, segundo os pais, esta rotina é quase diária para 43%.
Será que só eu é que acha isto um escândalo?

Mesmo com 32% das crianças a passarem mais de nove horas nas creches, há 27% de pais com filhos entre um e dois anos (creches) e 10 por cento com crianças nos jardins-de infância (entre três e cinco anos) a afirmarem que gostariam que as instituições abrissem ao sábado! !!!!

Que adultos vão ser as nossas crianças de amanhã?

13 comentários:

Anónimo disse...

Estudo importante, já o tinha lido em vários locais. Só acho despropositada a conclusão a que chega: já pensou que muitos pais trabalham muito para conseguir dar o melhor aos filhos? Já pensou que, se calhar, esses pais vão com uma dor no coração por deixarem os seus filhos tanto tempo na creche? Já pensou que nem toda a gente tem pais ou outra familia por perto que possa ajudar? E já pensou que os pais quase nunca trabalham ao lado da creche ou jardim de infância? As suas afirmações denotam imaturidade e desconhecimento de vida prática. Cresça um pouco e só depois venha fazer afirmações descabidas!
Cumprimentos, Filomena Alves, mãe de 3 filhos, com idades entre os 1 e os 7 anos.

Bárbara disse...

É imensa a quantidade de pessoas que querem 'ter filhos' e muito poucos os que desejam ser pais. As crianças são sempre colocadas em segundo plano quando o assunto é trabalho, quando na verdade, elas adorariam passar mais tempo com seus pais ao invés de ganhar um belo passeio nas férias.

Eu tive meus pais próximos durante toda a minha infância: meu pai optou por ter um escritório em casa (ele é advogado) deixando de ganhar mais trabalhando em grandes empresas para poder ficar perto de mim e de minha irmã. Minha mãe deu um tempo em sua vida profissional para poder cuidar de suas filhas. Minha infância foi menos abundante de brinquedos e viagens do que a das minhas amigas, mas foi intensamente rica em carinho e presença dos meus pais. Não trocaria isso por nada no mundo!

moya disse...

Os meus pais sempre foram funcionários públicos, pelo que tinham horários bastante bons. Não tive grandes mordomias e tecnologias, mas nunca me faltou comida e fazíamos grandes viagens e passeios nas férias e fins-de-semana.
Já o meu marido cresceu num lar onde sempre foi muito amado e acarinhado mas onde os horários e turnos extra de ambos os pais se sobrepunham à vida familiar. E quando chegavam a casa, os pais estavam demasiado cansados para fazer algo diferente com eles... Pelo que hoje em dia ele identifica-se mais em certos aspectos com a minha família que com a dele...
Isto responde à tua questão, Cat?
Na minha opinião, há que não ser de extremos: a pessoa deve trabalhar (e de preferência em algo que a faça sentir realizada, pois é esse exemplo que devemos dar aos nossos filhos!)mas determinar um limite: senão, por mais que tragamos dinheiro para casa, os nossos filhos vão crescer a pensar que o mais importante é o dinheiro e as coisas que ele pode comprar. Os afectos não devem ser substituídos por coisas... Uma quebra de relacionamento assim leva a indivíduos que não sabem confiar, que não têm auto-estima e mais tarde acabam por pôr os pais numa instituição de 3a idade porque "também têm que trabalhar para ganhar dinheiro"...

P e M disse...

Com muita pena minha, tenho de dizer que fiz parte "clube" das mães que tem crianças na creche e "esmagadora maioria (90%) vê televisão"...

Só posso dizer que tive de tirar a minha filha dessa creche, uma fez que ela modificou o seu comportamento de tal forma que me assustou! Ela só passado uma hora é que "voltava para a vida"... Sendo uma criança alegre e comunicativa, quando vinha da creche estava completamente apática e respondi por monossilabas.

Por outro lado, tenho um sobrinho com (+/-) 1 anos a menos do que a minha filha, que vê televisão desde que acorda até que adormece (e ele nunca esteve em nenhuma creche)... Ele vê desde desenhos animados para a idade dele até wrestling (ou lá como se chama isso)...

Unknown disse...

Filomena, não temos de ter todos a mesma opinião... eu acredito que somos nós que fazemos a nossa realidade, e cresci muito depois de ter chegado a esta conclusão.

Carina disse...

Pois sim... ter filhos é MUITO diferente de ser pais e, ao contrário do que muita gente pensa, o problema não é não termos outra opção senão enfiarmos as nossas crianças em creches o dia todo e ligarmo-las à televisão o resto do tempo para podermos descansar. Opções, há muitas (de facto há), mas infelizmente quase ninguém considera a hipótese de reinventar a sua vida em função da maternidade/paternidade. A regra é fazer as crianças encaixarem-se na vida que já temos, mostrando-lhes que não são suficientemente importantes para mudarem a nossa forma de viver. Isto significa, certamente, aprender a viver com menos, abdicar de algumas coisas que nos habituámos a considerar "essenciais" (até que ponto?!!!, é uma boa pergunta para começar a mudar...), ser mais flexíveis e criativos em relação à nossa própia forma de encarar as coisas e, mais importante e difícil que tudo o resto (e por isso tanta gente desiste
à partida) encontrarmos o que é realmente essencial dentro de nós e na nossa relação com o mundo e com as nossas crianças, com todas as crianças, pois há muito que elas nos tentam ensinar a viver melhor. Não conheço uma única pessoa que tenha tido uma infância plena de memórias e experiências felizes junto da sua família que afirme preferir ter tido "o melhor"... que poderá ser melhor que isto?
Para reflectir, pois, antes de saltar em defesa daquilo que é, apenas, mais uma opção e não a única... sim?
Mãe de 2 filhos, 6 anos e 6 meses.

Anónimo disse...

Carina, desculpe, já agora estaria interessadissima em saber como é que dá uma nova luz ao seu emprego. Quantas horas trabalha por dia? E quanto é que leva para casa ao fim do mês? O seu discurso é idilico! As pessoas trabalham, têm contas para pagar ao fim do mês e quem de nós não faz uma ginástica imensa para conseguir equilibrar tudo?
Filomena

Carina disse...

Seria uma discussão interessantíssima, Filomena, mas como a Cat disse, e eu concordo, nem todos temos que ter a mesma opinião - e eu acrescento - nem todos temos que fazer as mesmas escolhas. Acredito que a nossa vida deve estar nas nossas mãos, e não o inverso, mas é apenas (mais) uma opinião.
Tudo de bom para si.

moya disse...

Tenho que me deixar de seguir "moinhos de vento", mas cá vai:
Se uma criança dormir c. de 12h por dia, sobram outras 12. Se dessas 12, 9 forem passadas numa creche, e vá lá, 1h for passada em transportes de e para, significa que passam 2h com os pais... 2h/dia= 10h/dias úteis + fim-de-semana (12h+12h), i.e., 34h/semana com os nossos filhos. Se as creches abrirem aos sábs. são menos 10h desse dia, ou seja, 24h/semana com os nossos filhos. A mim não me espanta que eles os ponham a ver tv: com 1 educadora para 4 ou 5 crianças, eles têm que arranjar uma "trela visual" para os manter quietos. Mas uma coisa é deixá-los ver 15min outra bem diferente é 3 ou 4h. Quem regula isso?
Então recapitulando, estamos com os nossos filhos menos horas do que as que trabalhamos por semana (p.e., para 8h/dia=40h semanais), deixando-os em instituições que os põem a vegetar em frente da tv em vez de os estimularem para o mundo... E não se vê mal algum nisso???
Se os pais o fazem com "1 dor no peito" não quererá isso dizer que no fundo eles próprios desaprovam as suas acções? Não será isso um aviso da sua psique para mudarem?
Eu sou bolseira e não ganho bem. Poderia ter aceite mais um ou dois trabalhos cumulativos, mas escolhi não o fazer, pois o acréscimo monetário não cobriria o meu cansaço ou o valor do tempo que eu passo com a minha filha. Tenho sorte que um familiar pode ficar algumas horas por dia com ela, mas assim mesmo, escolhi não a colocar numa creche porque acho que até aos 3 anos ela precisa de atenção personalizada. Tive a sorte de encontrar uma ama a um preço um pouco mais elevado que uma creche das Misericórdias (225€) mas mais barata que o valor médio de uma creche particular (400€), que me fica com ela as restantes horas enquanto eu estou a trabalhar. Conheço outros pais, que a partir do 2º filho, acharam por bem que um dos pais ficasse em casa com eles, porque era menos oneroso que os mandar a todos para uma instituição. HÁ SEMPRE OUTRAS OPÇÕES: viver com "palas nos olhos" é que denota, mais do que imaturidade, falta de iniciativa.

Anónimo disse...

Estimada Moya, como a Carina disse, opções de vida há muitas, tal como há muitas, mas muitas pessoas com palas nos olhos, como refere. Trabalho das 9 às 18 e sou muito bem remunerada por isso. Tenho o privilégio de ter os meus filhos nos melhores colégios privados. E sim, defendo que a creche é um excelente lugar de desenvolvimento, ao contrário das amas. Atenção personalizada? Não acha que isso é uma "desculpa" por causa dos preços das creches? Tantas amas há desqualificadas...obviamente que existem excepções, não digo que não mas para mim o melhor é a creche. Claro que existem creches e creches mas todos sabem que o bom paga-se. Isto é válido para tudo na vida: vestuário, cuidados de saúde, brinquedos, carros, etc.
Se uma pessoa trabalha das 9 às 18 o que é que sugere? Que se largue o emprego? Ou que se trabalhe em part-time?E sim, tenho 3 filhos. E sim, sei muito bem a diferença entre ter crianças e ser pais. Por isso mesmo é que quero o melhor para eles. E o melhor para eles não passa por deixar o emprego ou as 8horas por dia. Porque o melhor para eles passa por eu auferir um bom ordenado. Só assim lhes posso proporcionar a melhor educação fora de casa. Porque em casa eles têm-na e muito. Tempo para eles não lhes falta, felizmente, e se calhar é por isso que não me deito antes da 00:00. E acordo todos os dias às 07:00. As pessoas fazem as opções de vida que desejarem. A dor no peito, cara Moya, refere-se à vontade que muitas vezes tenho em ficar com os meus filhos em casa. E então, acha que é um aviso da minha psiqué para largar tudo? Estaria a ser muito irresponsável, não acha? Talvez não o ache, mas, enfim, todas pensamos de forma diferente...ah, e já agora, falta de iniciativa?! Olhe bem para o seu exemplo...! Sabe que para além de ter um trabalho de 8 horas, tenho 3 filhos, dou-lhes atenção personalizada (não é por acaso que todos estão excelentemente desenvolvidos para a idade que têm, segundo apreciação de várias fontes), tenho o trabalho de casa para fazer, ainda que com ajuda de uma empregada, felizmente, que é algo que a maioria das pessoas não pode comportar. Enfim, cada um sabe de si não é verdade, Moya?
Felicidades a todas,
Filomena

moya disse...

Cara Filomena,
Ao ler as suas palavras, vejo que considerou ofensivas as minhas palavras, o que não foi de todo a minha intenção. No máximo, foi para a fazer pensar, o que penso que aconteceu.
Claro que todos temos a nossa opinião e ainda bem que assim é, tal como todas as crianças têm necessidades diferentes, e não há uma fórmula mágica para todas. Para nós e para a nossa filha, até agora, o que tem feito sentido é ter uma ama, que por sinal nos tem enchido as medidas.
Pelo que me diz, tem um trabalho com um horário razoável. Já lá em casa, se eu quisesse, poderia entrar às 8h e não sair antes das 21h... Obviamente que agora não o tenho feito (como cheguei a fazer durante a gravidez). Tal como acontece por vezes com o meu marido... Pelos vistos ambas concordamos que é saudável ter uma actividade extra-família e não uma família extra-actividade, sim? Hehehe! Também acho que o tempo que passamos com os nossos filhos deve ser em qualidade, se não for possível em quantidade ;)
Quanto a dinheiro, não vou ser hipócrita e dizer que não é importante. É, e muito, especialmente na nossa sociedade consumista. Mas daí a dizer que tudo o que é caro é bom... Aí não concordo consigo. Acho que o parâmetro de avaliação deve ser outro.
Agora tricas à parte, diga-me sinceramente, se lhe fosse possível pelo menos nos primeiros 3 anos de vida (os mais importantes em termos evolutivos) ficar mais tempo com os seus filhos: continuaria a achar que uma creche que põe as crianças a ver tv e em que as educadoras são 1 para cada 5 crianças seria realmente uma melhor opção que elas estarem consigo?
Um abraço cordial,
m.

Anónimo disse...

Cara Moya: concordo consigo. Sim, claro que optaria por ter os meus filhos comigo, que mãe não gostaria que assim fosse?
Felicidades,
Filomena

Materna JP disse...

Eu tive 3 filhos num período de 8 anos, trabalhava e estudava e só os via nos fins de semana.
Recebia um bom salário e meus filhos estudavam em uma boa escola.
O pai estava vivendo no exterior nos últimos 2 anos.
Claro que os filhos se desenvolvem, claro que eles aprendem muito bem o que tem que aprender, claro que se tornam independentes desde cedo e que nenhum vá morrer por isso, mas como fica a relação chamada FAMILIA?
Eu me pus a pensar e desisti de tudo!
O meu coração já me pedia a muito tempo para parar, mas o meu orgulho não me deixou até que eu "cai em si" e percebi que não era feliz de verdade e não estava fazendo meus filhos felizes de verdade.
Fazem 2 anos que parei com tudo para cuidar de meus filhos e ficar junto com meu marido.
Temos algum problema financeiro hoje, não muito diferente do que tinhamos antes, mas viver em FAMILIA não se compara em nada!
Estou feliz e me sinto plenamente realizada e não sinto falta do que fazia!
Reinventei a maternidade e hoje trabalho e estudo em casa, junto do minha maior riqueza: MEUS FILHOS!
Quiçá todas as mães que assim desejam possam se decidir a isso sem serem julgadas!

beijo a todas