Sobre o blog:

“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Porque a cesariana beneficia os médicos?

Numa pesquisa recente dos EUA, 82% dos médicos utilizaram "obstetrícia defensiva", para evitar processos de negligência. Quando um parto tem resultados negativos, os médicos são processados e criticados por não terem feito uma cesariana, mas são raramente criticados por intervenções desnecessárias. No entanto, esta prática viola um princípio fundamental: todo e qualquer procedimento adoptado pelo o médico deve ser realizado antes de tudo e principalmente para o benefício do paciente.
E em Portugal? será que já ouve algum medico processado por ter feito uma cesariana, ou qualquer outra intervenção desnecessária? Já viram se os médicos começassem a serem processados por fazerem episiotomias? Talvez mudassem os seus comportamentos...

Estudos do Reino Unido e dos EUA mostram não só que os nascimentos acontecem muito mais  de segunda a sexta-feira durante o dia, mas também, e mais surpreendentemente, que as cesarianas de emergência são realizadas em dias de semana preferenciais e no horário diurno.

A cesariana leva 20 minutos, enquanto no parto vaginal o médico tem que permanecer no hospital. Quando os obstetras são responsáveis pela atenção materna primária, incluindo as consultas pré-natais de rotina e o atendimento aos partos normais, a conveniência da cesariana é vital para sua prática, como é que eles conseguem no meio das consultas serem chamados para um parto que pode demorar.... 12 horas ou mais...

Era interessante fazer-se um estudo destes em Portugal, no entanto podemos perguntar ás nossas amigas que foram submetidas a uma cesariana, a que dia e a que horas foi... Podemos também analisar a taxa de cesariana nas férias e épocas festivas... Sabemos que antes do Natal nascem muitos mais bebés por cesariana que na semana entre o Natal e o ano novo... porque será?

No sistema privado de saúde, a cesariana é um dos procedimentos cirúrgicos de grande porte mais comuns, lotando leitos e salas cirúrgicas e fornecendo uma importante fonte de rendimento. Os hospitais particulares competem por pacientes e desencorajam partos em ambientes não hospitalares, mesmo quando as evidencias cientificas provam a sua segurança. Interesses comerciais promovem os partos de "alta tecnologia", que necessitam de equipamentos.

As altas taxas de cesariana beneficiam os médicos, os hospitais e a indústria.

 Quando as parteiras são postas de parte da assistência materna, as taxas de cesariana são mais altas. As parteiras utilizam-se de um paradigma diferente ao focar não na potencial anormalidade da gravidez, mas na sua normalidade. PARIR É FISIOLÓGICO!! As grávidas não são doentes!

As taxas de cesariana são menores quando parteiras em vez de médicos acompanham um parto. A promoção da cesariana faz parte de uma campanha para manter a profissão obstétrica no controle da assistência materna.

O papel de parteira tem de renascer... para bem das mulheres!

Temos de perceber que parir é um acto fisiológico, que pode e deve ser acompanhado apenas por parteiras.

Quando os nossos filhos vão para o infantário, são educadoras que lá estão... não faria sentido nenhum serem pediatras a tomarem conta das nossas crianças... Vamos ao pediatra quando algo não está bem... Assim devia de ser na gravidez... os obstetras só deviam de acompanhar gravidas de alto risco, os acompanhamentos deviam de ser feitos pelas parteiras. No parto, os obstetras só deviam de ser chamados em casos de extrema necessidade.

Deviam de ser as parteiras a acompanhar as mulheres num dos momentos mais sagrados das suas vidas.

Só depende de nós mulheres acreditarmos no nosso corpo e valorizar mais a profissão das Enfermeiras Obstetras.

3 comentários:

moya disse...

Gostei da analogia Pediatra-Educadora. Era realmente bom que a profissão de enfª-parteira fosse mais valorizada... Ouço parteiras a dizer que a generalidade das enfermeiras-parteiras em portugal não têm "formação" para assistir partos naturais; ouço histórias de enfermeiras-parteiras que são desautorizadas por médicos quando não há qualquer problema durante o parto e elas poderiam realizá-lo sem problemas...

JOANA disse...

Catarina

Gostei muito do escreveste e como trabalho num hospital privado vejo a correria que é na semana antes da Páscoa, do natal ou das férias do obstetra. Chegasse ao cúmulo de fazer cesarianas em bebés com 36 semanas e sem patologia nenhuma apenas porque o médico vai estar fora. Compreendo que a mãe goste que o seu trabalho de parto seja acompanhado pelo médico que a acompanhou toda a gravidez mas ....
Sem querer ser polémica, mas se as mães durante a gravidez tiveram cuidados especiais (alimentação, etc...) com elas para tudo correr bem e após o parto também vão ter com o bebé (evitar infecções, ver se cresce bem....) porque não no momento do parto???? consegui explicar-me bem?
Na minha prática hospitalar nunca tive contacto com uma doula, apesar de enfermeiras e médicos falarem cobras e lagartos. Mas fico feliz por compreender a importância das enfermeiras obstetras. Até porque a partir de este ano vou começar a estudar para isso (soube ontem que entrei na especialidade).
Espero que nos encontremos por aí.
Beijinhos

Joana

Unknown disse...

Joana, antes de mais obrigado pelo contacto e parabéns pela entrada na especialidade.

Nunca tive problema nenhum em entrar como doula num hospital, antes pelo contrario... as tuas colegas que falam cobras e lagartos não sabem qual é o nosso trabalho, infelizmente.... nós não realizamos qualquer acto médico!

espero que tu como futura enfermeira obstetra não te limites a ser ajudante dos obstetras e questiones alguns procedimentos... como... porque é que a mãe tem de estar deitada o tp todo???
beijinhos e espero que voltes ao meu cantinho...