Sobre o blog:

“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Cesariana: quando, como e porquê

Quando, por algum motivo, o bebé não consegue ou não deve nascer por via vaginal, a opção recai sobre o parto cirúrgico, a cesariana.

A intervenção pode ser realizada com anestesia geral ou epidural, mas esta última reúne cada vez mais as preferências de médicos e grávidas. Poucas já serão, aliás, as que não acompanham de olhos abertos e emoções despertas o nascimento do seu bebé na sala de operações.

Há indicações absolutas e consensuais para realizar uma cesariana, como os casos de prolapso do cordão umbilical (situação em que o cordão surge na vagina à frente da cabeça do bebé, podendo ficar comprimido), descolamento da placenta ou placenta prévia, mas a operação não deve ser vista como a solução para todos os males. Sobretudo, não deve ser encarada como um procedimento livre de riscos, argumento frequentemente invocado para justificar uma cesariana a pedido.

Instituições de referência como o Colégio Real de Obstetras e Ginecologistas (RCOG, britânico) e o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) defendem especificamente que a solicitação materna, por si só, não constitui indicação para o parto cirúrgico. O RCOG aconselha a que se explorem as razões do pedido e se discuta com a grávida os riscos e os benefícios de uma cesariana na ausência de motivos clínicos.

Nem mesmo a apresentação pélvica do feto – quando o bebé ‘não dá a volta’ -, que ocorre em cerca de três a quatro por cento das gravidezes de termo – é uma justificação inequívoca para a realização de cesariana. Segundo recomenda o RCOG, as mulheres com gestações saudáveis de fetos pélvicos devem ser submetidas a uma manobra por volta das 36 semanas que tem por objectivo tentar reverter a situação. O procedimento intitula-se versão externa e deve ser realizado por um obstetra experiente. Com a ajuda da monitorização fetal contínua e exercendo pressão nos locais certos, o médico procura colocar o feto de cabeça para baixo. A taxa de sucesso da técnica ronda os 60 por cento.

Minimizar riscos

Apoiado nas orientações do Instituto Nacional para a Saúde e Excelência Clínica (NICE), o colégio inglês sublinha a importância de se reduzirem os riscos inerentes à cesariana, particularmente a electiva (antes de a grávida entrar em trabalho de parto). Diz o RCOG que a cesariana marcada antes das 39 semanas está associada a um maior risco de problemas respiratórios no bebé. Depois desta data, as probabilidades desse tipo de complicações surgir diminuem significativamente. É, por isso, totalmente desaconselhável marcar partos cirúrgicos rotineiramente antes das 39 semanas, recomenda o RCOG. A associação lembra ainda que é importante reduzir as hipóteses de uma grávida vir a necessitar de uma cesariana. Para isso aconselha os técnicos de saúde a explicarem às mulheres que o apoio continuado de outra mulher durante o parto reduz as probabilidades de o nascimento terminar na sala de operações. Sublinha também que as induções do trabalho de parto, em grávidas saudáveis, não devem ser efectuadas antes das 41 semanas de gestação, pelo risco de cesariana que comportam (devido a dificuldades na progressão do parto).

Outro factor associado ao risco de parto cirúrgico é a utilização da monitorização fetal contínua (CTG), tecnologia cujos resultados nem sempre são considerados objectivos. O RCOG não desaconselha o recurso ao CTG, mas defende que é importante que as grávidas tenham conhecimento destes factos.

Em que casos?

Quando se prevê que os benefícios são superiores aos riscos, avançar para a cesariana é, sem dúvida, a melhor opção. Algumas das causas mais frequentes do parto cirúrgico, segundo o RCOG, são: bebés pélvicos (quando a reversão externa está contra-indicada ou foi mal sucedida), gravidezes múltiplas (se o primeiro bebé não estiver ‘de cabeça para baixo’), placenta prévia (quando a placenta cobre parcial ou completamente o orifício interno do colo uterino) e doença infecciosa materna.

Outros motivos frequentes incluem cesariana anterior (embora envolto em controvérsia), paragem do trabalho de parto ou progressão lenta, incompatibilidade feto-pélvica (desproporção entre as dimensões da pélvis e as dimensões ou posição do feto), alterações do ritmo cardíaco do bebé, prolapso do cordão umbilical e descolamento da placenta.

Recuperação

A recuperação física e emocional de uma cesariana é mais prolongada e dolorosa do que a de um parto normal. É preciso não esquecer que a cesariana é uma cirurgia major, ou seja, de grande impacto, tendo, por isso, maiores consequências sobre o organismo. A recuperação completa pode demorar cerca de quatro a seis semanas. O RCOG recomenda que as mulheres que foram submetidas a um parto cirúrgico sejam alvo de cuidados específicos, nomeadamente no apoio à amamentação. E que tenham oportunidade de perceber e discutir as razões que as levaram à sala de operações. Para que numa gravidez seguinte possam tomar uma decisão mais esclarecida quanto ao tipo de parto.

Fontes: Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (www.rcog.org.uk) e National Institute for Clinical Excellence (http://www.nice.org.uk/)

Riscos da cesariana

Para a mãe:
Morbilidade e mortalidade significativamente mais elevadas do que no parto vaginal;
Maior risco de internamento nos cuidados intensivos (4x);
Risco de complicações infecciosas 5 a 20 vezes maior;
Risco hemorrágico 6 a 8 vezes superior;
Incidência de 1 a 2 por cento de complicações intra-operatórias (anestésicas, hemorrágicas e lesões viscerais);
Incidência de 1 a 5 por cento de complicações pós-operatórias (infecciosas, trombo-embolismo venoso, depressão pós-parto);
Complicações a longo prazo: maior risco de placenta prévia e placenta acreta, ruptura uterina e descolamento de placenta;

Para o bebé:
Risco de lesão fetal na altura da histerotomia (incisão no útero) e da extracção (2%);
Risco de síndrome de distress respiratório nas cesarianas electivas efectuadas antes das 39 semanas;
Não existe diferença significativa na morbilidade e mortalidade neonatais entre o parto vaginal e a cesariana.

Para tornar o ambiente da cesariana menos frio:

1. Se possível, permanecer algumas horas em trabalho de parto antes de realizar a cirurgia;
2. Pedir para que estejam apenas as pessoas indispensáveis na sala de operações e que estas façam silêncio, evitando assuntos despropositados;
3. Havendo esse desejo, pedir para ser colocada uma música suave e em volume baixo, ou cantar para o bebé (por que não?!);
4. Durante a administração da anestesia, o pai pode participar dando apoio físico e emocional, colocando-se de frente para a mãe e apoiando os seus ombros. Neste momento, o casal pode aproveitar para se olhar nos olhos numa atitude de cumplicidade e trocar palavras de carinho;
5. Depois da anestesia, o pai pode permanecer de mãos dadas com a mulher ou simplesmente ficar junto dela;
6. Confirmar se é política do serviço prender os braços da mãe durante a cirurgia e pedir para que tal não aconteça;
7. Quando o bebé nasce, o foco de luz deve ser retirado do ventre materno e todas as luzes devem ser reduzidas para não ofuscar o recém-nascido que está a sair de um ambiente escuro;
8. Imediatamente após o nascimento, a criança deve ser colocada sobre o ventre materno para sentir o calor da mãe e, se possível, ali permanecer até o cordão deixar de pulsar e a cirurgia terminar;
9. Se o pai se sentir à vontade poderá cortar o cordão umbilical, tomando as devidas precauções indicadas pelo médico;
10. Se possível, realizar uma massagem suave no bebé ao colo da mãe;
11. Evitar submeter o bebé a intervenções desnecessárias (aspiração e administração de colírio);
12. Se a mãe estiver desconfortável com o bebé no peito, o pai poderá segurá-lo e massajá-lo;
13. Pedir ao anestesista para que não administre nenhum sedativo à mãe. Desta forma ela estará mais activa.
Fonte: Amigas do Parto (http://www.amigasdoparto.com.br/)

Texto: Maria João Amorim revista Pais&Filhos

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