"Hoje, a mulher, quando grávida, começa a ser seduzida por um discurso todo ele muito sustentado na agradabilidade acústica traduzida pela utilização dos “inho(s)” e “inha(s)”. Expressões como: “uma ajudinha”, “um jeitinho”, “um sorinho”, “uma piquinha com uma agulhinha”, “uma horinha pequenina”, etc, fazem parte do discurso standartizado na relação que se estabelece entre os profissionais e as grávidas desde o primeiro encontro. De forma quase natural e também necessária são omitidas algumas referências a desvantagens e riscos dos contextos abordados.
O encantamento que este tipo de discurso produz na mulher grávida, leva-a a aceitar sem discussões e inquietações os inúmeros procedimentos e intervenções praticados pelos profissionais das instituições que por sua vez as conduzem para uma viagem com possíveis consequências. Algumas de tal forma graves que marcam aquela mulher, ou bebé ou ambos para o resto da vida. O encantamento do canto, muito ao estilo do canto da sereia, transporta a mulher e respectiva família para procedimentos e intervenções cada vez mais agressivos que podem culminar com desfechos frustrantes quer para a mulher, que vê defraudada, em muitas das situações, o sonho do nascimento do seu filho num ambiente rodeado de paz e tranquilidade, quer para os profissionais, traduzidas pelas altas taxas de partos instrumentados através de ventosas e fórceps ou de partos cirúrgicos designados por cesarianas. Com partos altamente intervencionados, o canto da sereia continua a impregnar a consciência destas mulheres para a desculpabilização dos actos então praticados e das suas consequências sustentando-se na dramatização do parto como evento. Já nem me refiro à desconsideração que à posteriori estas mulheres sofrem através da frieza das relações institucionais.
Daí esta necessidade sentida, de estalar os dedos à mulher embalada pelo encantamento do canto e fazê-la despertar para a tomada de consciência das suas opções e aceitações no sentido de não se entregar de forma gratuita às múltiplas decisões tomadas por outros intervenientes que não os dela e da família para o nascimento daquela criança."
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Sobre o blog:
“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma via ecológica e sustentável para o futuro” Ricardo H. Jones
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